Falácia da Falsa Equivalência


Têm o mesmo formato, são ambos frutas;
mas são diferentes.
Terry Eagleton, considerado como "um dos intelectuais e académicos de maior projecção da actualidade", em declarações ao jornal Público, diz-nos que “O Hamas fez uma obscenidade moral. Mas nada que Israel não tivesse feito aos palestinianos vezes sem conta”. A isto denomina-se
falácia da falsa equivalência, repetida até ao vómito nos últimos dias. No Código Penal de qualquer país civilizado há várias gradações e penalidades para homicídio, e contudo as vidas têm todas o mesmo valor. Homicídio por negligência, de primeiro ou de segundo grau têm respetivamente molduras penais bem distintas. Entrar pela casa de civis de metralhadora em punho e disparar sobre crianças, velhos, bebés, degolando bebés e queimando vivas crianças, raptando inocentes mantendo-os cativos em condições desumanas; é diferente, do ponto de vista ético-moral, de matar crianças como dano colateral, porque estas são usadas como escudos humanos, quando se tenta aniquilar alvos militares pertencentes a um grupo terrorista. Quem acha que são igualmente graves, considerando apenas o número de mortes como métrica moral, deveria consultar com urgência um psiquiatra.

Lidar com a memória


Evoluímos - sim, somos o resultado da evolução por seleção natural - para guardar de forma mais vincada as memórias más em relação às boas, pois tal permitiu-nos afastarmo-nos dos perigos. Recalcamo-las do nosso consciente para ficarem no subconsciente adormecidas, prontas para serem espoletadas caso nos deparemos com circunstâncias similares à que originaram a má experiência. Tal como uma ferida que não queremos sarar, podemos até ignorar mas não a podemos tocar, sob pena de sentirmos dor. A tal experiência chamamos de trauma e pode ter naturalmente vários graus de intensidade, mas se vier à memória do caro leitor, de forma recorrente, algo que sucedeu há mais de um ano, certamente terá sido traumático. Há naturalmente vários níveis de trauma e um abandono de uma namorada não é equiparável à perda de um filho ou à experiência de uma guerra sangrenta, mas não deixa de ser um trauma. Evoluímos para guardar as más memórias, mas felizmente que vivemos numa civilização marcadamente segura, quando a comparamos com o Paleolítico onde a morte espreitava em cada esquina, importa por isso, tal como em tantos outros domínios, combater os instintos e forçar a mente a recordar os bons momentos. Não há sentimento mais tóxico que o ressentimento derivado do trauma, para nós e para os que nos rodeiam. É por isso premente não ter medo de recordar, para poder sarar.