A inflação tem um lado positivo em países como Portugal, pois alivia o encargo dos endividados e da dívida pública ao depreciar as dívidas, permitindo ainda que o estado equilibre contas públicas, cortando na despesa pública, sem a berraria das ruas que cortes nominais invariavelmente acarretam. Foi no período de maior inflação, particularmente 1970-1990, que tivemos maior crescimento económico real (já descontada a inflação). Foi no período de mais baixa inflação, particularmente 2000-2020, que tivemos o pior crescimento económico real do último século.
A inflação é necessária nos países onde o Estado tem tendência para o endividamento e com tendência para ser perdulário. O Euro não permitia fazer o que se fazia com o Escudo, exatamente devido à inflação que o Banco de Portugal provocava ao imprimir moeda em função das necessidades do estado e da economia.
Um dos grandes problemas da adesão à moeda única foi exatamente a baixa inflação, a par com as baixas taxas de juro que estimularam o endividamento. A baixa inflação fez com as dívidas fossem cada vez mais difíceis de suportar, devido aos juros, que mesmo sendo baixos, largamente superavam a inflação. As dívidas não depreciavam facilmente e por outro lado, era praticamente impossível aos governos fazer cortes de despesa pública, pois tais cortes teriam que ser nominais, o que acarretaria sempre protestos nas ruas, já para não mencionar os bloqueios constitucionais. Reparemos como o Tribunal Constitucional, cujos juízes não são propriamente doutos em economia, considera que cortes reais de salário só são inconstitucionais se forem nominais, se forem disfarçados com inflação, já não há qualquer inconstitucionalidade.
A inflação também permite aumentar a competitividade da economia em relação ao exterior, embora neste caso não seja tão aplicável porque o fenómeno é global. Em suma, à luz da economia política e dos constrangimentos políticos que o país sempre atravessou para efectuar reformas estruturais, a inflação moderada também tem aspectos positivos que convém enaltecer. António Costa sabe-o, e como político experiente e astuto que é, usá-la-á para fazer o devido equilíbrio das contas públicas sem o protesto nas ruas que cortes nominais envolveriam.