A Ciência não é teleológica


A professora Joana Cabral da Universidade Lusófona tem sido uma acérrima crítica do colonialismo esclavagista perpetrado pelo império português. Não me oponho de todo às questões éticas ou históricas evocadas pela académica. Contudo a professora faz uso dos pergaminhos científicos para legitimar e defender um ideal. Não há muito tempo um grupo de 67 signatários de um manifesto, defendia que "a produção de conhecimento académico não se coaduna com propósitos de normalização, legitimação e branqueamento de um partido racista". Mais uma vez não me oponho aos epítetos atribuídos ao partido de extrema-direita. Como formado em Ciências, devo no entanto referir que a falácia comum é não considerar que a ciência não é teleológica. Repito, a ciência não é teleológica, ou seja, não tem um fim ou um propósito que não seja o do mero conhecimento. A Ciência visa exclusivamente o conhecimento (do Latim scientia=conhecimento). Por conseguinte a Medicina não é uma ciência, porque tem um fim e um propósito para lá do mero conhecimento, o do salvar a vida das pessoas. A Biologia e a Química, essas sim são sim ciências. Da mesma forma que a Engenharia não é uma ciência, é uma arte ou uma técnica, que se baseia na Física e na Matemática, sendo estas Ciências. Esta é uma falácia comum perpetrada por ideólogos da esquerda à direita. A Ciência não visa o bem estar do Homem, a paz dos povos, a prosperidade, a justiça ou a igualdade, visa apenas o conhecimento através do método científico. Misturar Ciência e Ideologia é portanto profundamente errado e manifesta um desconhecimento profundo sobre o que é o método científico. Em suma, do ponto de vista estritamente empírico, a Ciência visa apenas a busca pela Verdade.

4 comentários:

  1. Este post parece retirado de alguém que ficou parado no século XIX.

    Faz-se referência ao método - singular - científico, como se a ciência não tivesse uma pluralidade metodológica.

    Considera-se que a ciência não tem outro propósito que não o conhecimento teórico, ignorando-se todos os contributos decorrentes de áreas de investigação ou práticas praxiológicas. Depois fala-se da impossibilidade de misturar ciência e ideologia, como se a ciência não tivesse que se alicerçar num corpus de referências éticos e epistemológicos, que permitem compreender os regimes de verdade considerados.

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    1. A Ciência não se baseia na Ética, pelo contrário a Ética baseia-se na Ciência. Não cabe à Ciência fazer juízos éticos sobre o mundo e a realidade, mas apenas compreende-los. E obviamente que a Ciência se baseia na Epistemologia, mas os encadeamentos lógicos aí subjacentes são imnues à ética e à moral humanas. A Ciência, mais precisamente as ciências naturais, visa tão-somente o conhecimento do mundo, dos seus sistemas e dinâmicas.

      Foram ideias como a sua que impediram o progresso científico, desde a teoria heliocêntrica à evolução por seleção natural.

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    2. Ideias como a minha? Ideias centradas no reconhecimento que qualquer ação humana, nomeadamente a investigação, tem que ter um alicerce ético?

      Ideias que reconhecem que, qualquer investigação, tem que assumir um determinado paradigma epistemológico que, dada a sua natureza, é, inevitavelmente, um posicionamento de ideias e valores?

      Ideias como à minha que reconhecem que a ciência não se estabelece no vazio, mas num contexto social e político com a qual interage e é influenciada?

      Uma ciência (no seu todo, que integra os seus múltiplos campos) sem ética não é um progresso científico, é um retrocesso civilizacional.

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    3. Obviamente que o uso da ciência aplicada está limitado por barreiras éticas. Mas a questão não era essa. Não é pelas tragédias de Hiroshima e Nagasaki terem existido que banimos a Física Nuclear dos manuais universitários.

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