A Quinta da Atalaia onde se realiza a festa do Avante tem 25 hectares, o que dá 250 mil metros quadrados. Com uma ocupação de 33 mil visitantes, resulta numa média de 7,5 metros quadrados por pessoa. Se a distância mínima entre pessoas deve ser 1,5 metros, tal, considerando um raio de 0,75 metros em torno do indivíduo, resulta numa superfície circular de cerca de 1,77 metros quadrados. Logo a área aparenta ser mais que suficiente. Contudo, ao contrário das praias, as pessoas não estão imóveis sentadas no solo, e teríamos de assumir que todas as pessoas estariam homogeneamente distribuídas pela superfície total da quinta, o que é manifestamente irrealista, pois as pessoas juntar-se-ão ou entre si como é natural entre camaradas, ou junto a locais de interesse como zonas de restauração. Logo, aritmética e probabilisticamente falando, a distância de 1,5 metros entre as pessoas não será cumprida.
Por que o governo da Holanda teve algumas reservas contra o sul da Europa
Publicada por João Pimentel Ferreira
A questão é complexa e, no meu entender, envolve fenómenos económicos, culturais e sociais. De acordo com as sondagens, 1/4 dos holandeses vota em partidos eurofóbicos e xenófobos, ou seja, o partido do xenófobo Geert Wilders (PVV) mais um partido elitista dos ricos de Amesterdão denominado Fórum para a Democracia (FvD), que além de propor o Nexit é marcadamente eurofóbico e contra qualquer imigrante desqualificado, representam cerca de 1/4 do eleitorado. Como estes dois partidos estão a ganhar terreno eleitoral e como Mark Rutte sabe-o bem, o primeiro ministro holandês tem consciência portanto que não pode dar margem à sua direita, até porque as eleições são para o próximo ano. Adicionalmente, a maioria dos votos do eleitorado é detida por partidos europeístas e liberais, o Partido Popular para a Liberdade e Democracia (VVD), i.e. o partido de Rutte e o D66, partido marcadamente liberal e europeísta. Estes dois partidos representam mais de metade do eleitorado holandês. O restante 1/4 representa partidos socialistas, trabalhistas, verdes, cristãos e de animais. Como pode o leitor reparar, o panorama político-partidário é muito diferente do de Portugal.
O problema contudo é que a narrativa dos partidos da extrema-direita holandesa assenta obviamente numa premissa redutora e maniqueísta da clássica cigarra versus formiga, quando de facto o Euro permitiu que as empresas holandesas pudessem exportar os seus produtos para o sul da Europa. As empresas holandesas já eram muito mais eficientes que as do sul antes da introdução do Euro, mas a moeda única colocou tal diferença a nu ao colocar as empresas menos competitivas do sul no mesmo mercado interno que as holandesas. Certo dia quando passava férias em Cádiz fiquei surpreso ao denotar que nos supermercados locais os tomates que mais são vendidos, são os tomates holandeses, o que é um enorme paradoxo à primeira vista, pois os tomates são frutos que necessitam de muito sol, o que abunda em Espanha e escasseia na Holanda. Mas a agricultura holandesa é pioneira em tecnologia, sendo a Holanda o segundo maior exportador do mundo em produtos agroalimentares, apenas ultrapassada pelos EUA, com uma superfície muitíssimo maior e com muitíssima mais população, tendo a Holanda uma superfície pouco superior à do Alentejo (os Países Baixos têm cerca de 40 mil quilómetros quadrados de superfície enquanto o Alentejo tem cerca de 30 mil). Tal é um feito enorme da tecnologia agroalimentar, e o Euro colocou estas empresas altamente eficientes em competição directa com os agricultores da Península Ibérica, criando enormes assimetrias comerciais, restando aos países do sul oferecer o que o engenho do norte jamais conseguirá providenciar com melhor qualidade do que o sul, ou seja, bom clima para o sector do turismo. Ora a pandemia veio agravar o último recurso importante dos países do sul no mercado interno. A maioria dos eleitores holandeses é sensível a este racional, mas uma parte substancial, quer os menos letrados e ignorantes, quer uma elite aristocrática de Amesterdão farta de imigração islâmica, não lhe importa estes argumentos e quer simplesmente cessar a transferência de fundos para o sul da Europa, até porque alegam, parcialmente com razão, que tal como foi alegado durante o debate do Brexit, podem sempre fazer trocas comerciais com o resto do mundo.
Adicionalmente existe a questão protestante, que já não tem tanta influência como se julga, até porque a grande maioria dos holandeses não é crente, mas pode ter alguma influência cultural, visto que na tradição luterana a redenção é feita não através da caridade, mas através do trabalho. Além disso, há ainda alguma demagogia na comparação com os benefícios de outros povos europeus, que parcialmente compreendo, porque o estado holandês há muito que fez reformas que baixaram as garantias e benefícios para o seu próprio povo (a Holanda tem por exemplo de acordo com a OCDE, das lei laborais mais liberais do mundo), e muitos holandeses não compreendem porque motivo hão de sustentar outros estados que providenciam benefícios superiores, sendo o caso típico a idade de reforma que na Holanda é aos 68 anos, não havendo muitas exceções para casos especiais como existe amiúde no sul da Europa, e quando, por exemplo, em França a idade de reforma é aos 62 anos.
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