Morreu o Freud Lusitano


Fonte: Joana Bourgard/Público
Um grande homem que nos deixa, Carlos Amaral Dias, cujos programas ouvia amiúde na rádio. Todavia, como é que um psicanalista tão douto e sapiente, um marco na Psicanálise em Portugal, nunca largou esses funestos caralhinhos freudianos a que chamamos cigarros, e que servem apenas para nos saciar os lábios das felações e dos beijos acalorados e apaixonantes que nunca executámos? Porque motivo afinal o filtro dos cigarros é alaranjado, senão para simular cromaticamente a glande peniana? Poderia eventualmente ser de outra cor qualquer, considerando que se trata tão-somente de um mero filtro para gases? Falta de estímulos na boca, claramente que conduzem, inconscientemente, o indivíduo a saciar as necessidades psicanalíticas do foro oral por métodos socialmente aceites, entre os quais, os cigarros.

Só assim se explica também que as pessoas engordam quando deixam de fumar, considerando que a nicotina nem sequer é supressora do apetite. Que o comum dos mortais e medíocres (palavra não depreciativa que deriva da palavra mediana) não o enxergue, é normal, mas que o Freud Lusitano nunca se tenha apercebido que tal era somente uma necessidade psicanalítica saciada à custa da sua saúde pulmonar e cardiovascular, é deveras estranho. O próprio Freud, que faleceu com 83 anos, também morreu devido a um cancro oral prolongado devido ao excesso de utilização de charuto. Pelo menos o pai da Psicanálise, desta feita o vienense, não se contentou com qualquer diâmetro quando se tratava de saciar oralmente a líbido com falos ou estruturas similares, sendo que Freud recorreu sempre a portes muito mais robustos, leia-se sem eufemismos, pénis bem grossos, quando se tratava de colocar qualquer coisa na boca socialmente aceite.

O meu bem-amado avô, que nunca fumou, usava amiúde palitos na boca, muito para lá da mera necessidade pragmática e mecânica da remoção de restos alimentares situados algures entre os molares. Mas lá está, o porte delgado e quebradiço do palito de madeira não alcança a mesma saciedade que um gordo, cavernoso e espesso pénis, perdão, charuto. Assim, deixo a dica aos incautos e aos profanos: sempre que quiserdes colocar alguma coisa na boca, procurai a versão original que o Homo Sapiens utiliza desde o Paleolítico, utilizai pénis, polegares ou bocas de amantes. À frente dos outros usai pastilha elástica ou um palito o mais grosso possível. Consta que tais práticas não deixam vestígios oncológicos.

Do englobamento em sede de IRS


O englobamento faz sentido do ponto de vista da justiça fiscal, pois não é justo que rendimentos provenientes do trabalho sejam taxados de forma diferente e mais penalizadora daqueles provenientes de rendas prediais. O recurso a taxas liberatórias fez sentido historicamente pois havia fontes de rendimento que estavam sujeitas a anonimato, como por exemplo, rendimentos provenientes de jogos; ou ainda por motivos de simplificação fiscal, como por exemplo as taxas liberatórias aplicadas nos juros dos depósitos bancários, em que o imposto é retido imediatamente junto da entidade bancária considerando que o depositante recebe logo o valor líquido do dividendo. Neste ponto, portanto, o PCP tem plena razão, pois as taxas liberatórias ao taxarem de forma menos punitiva outras fontes de rendimento que não o trabalho, criam uma discriminação contras os rendimentos provenientes do trabalho. Diga-se que o contrário também sucede em favor do estado, i.e., se uma pessoa que aufira por exemplo o salário mínimo e que tenha rendimentos provenientes de capitas num depósito bancário, paga a taxa liberatória dos dividendos de capital independentemente dos seus baixos rendimentos, ou seja, neste caso ficaria a perder. Por conseguinte o englobamento obrigatório parece ser o modelo fiscal e socialmente mais justo.

Ademais, o exemplo dado pelo deputado da Iniciativa Liberal no Parlamento é da mais pura demagogia, pois ele falou de alguém que receberia 600 euros de salário mais 50 euros de renda, perfazendo 650 euros por mês de rendimentos, e neste caso esta pessoa estaria simplesmente isenta de pagar IRS, pois entraria no primeiro escalão em que há isenção do pagamento de imposto. Francisco Louçã, no seu espaço de comentário na SIC Notícias entrou também no seu nível típico de demagogia ao selecionar os factos, ignorando que neste momento os contribuintes saem sempre a ganhar, pois o englobamento é opcional, o que significa que as pessoas com poucos rendimentos já podem optar livremente pelo englobamento dos rendimentos prediais, caso essa opção lhes seja favorável.

Dito isto, os socialistas não enganam ninguém, pois são peritos a evocar bons princípios fiscais, sociais, ambientais, etc. mas o resultado final é sempre o mesmo: o aumento da carga fiscal. Eles jamais usam tais nobres princípios para fazer alterações fiscais numa ótica de neutralidade fiscal, i.e., eles podiam aumentar impostos num determinado setor em nome de "bons e nobres princípios" e depois baixar noutro setor em nome dos mesmos "bons e nobres princípios", ou seja, poderiam aplicar o englobamento obrigatório mas garantir que a receita total de IRS não se alteraria no referido exercício fiscal, aplicando o nobre e justo princípio da neutralidade fiscal. Mas não, jamais, um socialista adora evocar bons princípios sociais e ambientais com um único e simples propósito: aumentar a carga fiscal. Como sempre referi, tal prática socialista é extremamente nefasta para os bons princípios sociais e ambientais, pois envenena qualquer debate sério sobre o assunto e cria enormes anticorpos numa grande franja da sociedade contra qualquer tipo de medida fiscal com verdadeiros e nobres propósitos sociais ou ambientais.

O milagre das contas certas


O saldo estrutural compara as receitas e as despesas públicas sem considerar o ciclo económico nem ganhos ou perdas pontuais e não recorrentes. É como se no seu orçamento pessoal considerasse apenas as suas despesas fixas e o seu salário base fixo, e desconsiderasse algum subsídio ou ganho extras que possa ter recebido pontualmente, desconsiderando ainda alguma despesa extra inesperada. O saldo estrutural analisa, assim, apenas a  diferença entre as receitas e as despesas estruturais das administrações públicas, desconsiderando o ciclo económico e receitas ou despesas extraordinárias. O saldo estrutural primário baseia-se no mesmo princípio, mas desconsidera ainda pagamentos de juros da dívida pública, juros esses cujo valor o país não controla na plenitude, pois dependem essencialmente das políticas monetárias e de compra de ativos do Banco Central Europeu. Pode-se ver no gráfico acima, que é do Banco de Portugal, que o saldo estrutural primário praticamente não se alterou desde 2013, tendo de facto piorado desde 2012. O milagre das contas certas de Mário Centeno é, esmiuçadas as mesmas, um mero embuste político-mediático.

Deus foi ateu em 1755


O movimento ateísta internacional deu um enorme passo, poucos o sabem, com um fenómeno ocorrido em Lisboa em meados do século XVIII. Nessa maravilhosa manhã do dia 1 de Novembro de 1755, no dia de Todos-os-Santos, dos mais sagrados e relevantes para a cristandade, na mui devota e católica capital do reino português, um terramoto com magnitude de aproximadamente nove na escala de Richter, atinge a cidade de Lisboa. Os fiéis, por volta das nove horas e quarenta minutos da manhã, hora da ocorrência, estariam no culto dentro das igrejas e catedrais a orar ao Santíssimo lá no alto. Pois Deus todo-o-poderoso, o Omnipotente, das alturas, com tantos dias para escolher o Apocalipse, foi selecioná-lo logo no dia de todos os santos? Com tantos pontos no globo para arrasar e exterminar, porque não lançou Deus o caos e o dilúvio nas Arábias ou na Ásia, terras de hereges, ímpios e infiéis, e foi espoletá-los na mui crente e devota cidade de Lisboa? E no referido dia sacro, porque não estremecer o solo à tarde, hora do prazer e do ócio, considerando que a preguiça é pecado capital, e ativar o tremor de terra de manhã à hora da missa e do culto, no preciso momento em que os devotos a Si oravam? Assim, considerando que as igrejas e catedrais são os edifícios mais altos e pesados, pois são constituídos essencialmente de pedra, a matança e a carnificina tornaram-se "exemplarmente bíblicas" nos locais de culto, onde os devotos filhos oravam ao seu benévolo Pai. Voltaire, pois os locais nunca foram muito dados ao intelecto filosófico, perante tamanha tragédia postulou a verdadeira Oração, desta feita, lógica, ontológica e epistemológica, que fundou o ateísmo iluminista internacional contemporâneo: ou Deus não é omnipotente, ou se o é, é alguém muito macabro e perverso, tal como já postulava o paradoxo de Epicuro. Só alguém muito perverso e macabro tem prazer em ver sofrer aqueles que o amam. E se não é omnipotente, não é Deus, é pois apenas mais uma deidade "a la carte" como tantas outras, desde as da mitologia greco-romana às da mitologia nórdica.

Os tremores de terra são dos melhores argumentos para contestar a ideia impostora criada pelos homens da Idade do Bronze, de que existe um ser bondoso omnipotente nas alturas, que se interessa pelo bem-estar dos Homo Sapiens residentes neste rochedo chamado planeta Terra. Este planeta onde residimos está situado na zona habitável (zona de Goldilock, onde, por exemplo, a água toma o estado líquido) em torno de uma estrela mediana a que damos o nome de Sol, estrela essa situada numa galáxia com outras cem mil milhões de estrelas, de um Universo com outras cem mil milhões de galáxias. Já perdeu o fio à meada? Pois eu explico de forma mais terrena: há mais estrelas no Universo do que há grãos de areia em todos os desertos e todas as praias do nosso planeta; e querem-nos fazer crer os cristãos de que o Criador do Cosmos revestiu-se de Homo Sapiens há cerca de 2000 anos, cerca de 0,00005% do tempo desde que existe planeta Terra, para, na cruz, expiar os instintos primários da espécie reinante deste grão de areia? A própria noção antropocêntrica ou antropomórfica que a religião implica, manifestadas, por exemplo, no clássico geocentrismo, em santos e profetas ou em deuses com características e traços humanos, revelam que Freud tinha razão a propósito, isto é, o Homem é extremamente egocêntrico. A astronomia colocou o Homem no seu devido lugar, o que o obrigou a ser, coletivamente, aquilo que a religião, apesar de o apregoar nunca o foi verdadeiramente: humilde. Pelo contrário, a religião advoga a soberba e o narcisismo coletivos, a de que o Cosmos foi desenhado para nós, quando todas as evidências apontam em sentido contrário. E quando tomamos conhecimento, conscientemente, que somos coletivamente enquanto Humanidade, apenas um mero grão de areia num deserto, matematicamente falando, ficamos cientes que tal facto exige-nos a verdadeira humildade.

Quando se pergunta aos cristãos e demais crentes por que motivo Deus permite tanto sofrimento e miséria, dizem-nos amiúde que tal acontece, tal como postulou um devoto amigo meu, porque "Deus é um cavalheiro, só entra no coração dos Homens perante convite". Quando perguntamos por que motivo bebés inocentes morrem, quando o livre arbítrio é ainda inexistente, os mais radicais e infames referem que a culpa reside nos pecados dos pais. Os terramotos resolvem todo e qualquer problema teológico, pois ceifam castos e ímpios, debochadas e pueris, clérigos e plebeus, velhos e bebés, cristãos e muçulmanos, virgens e meretrizes, santos e pecadores. Os países cujos povos do Livro se dedicam mais às questões de fé para evitar os terramotos, como a Turquia, o México ou o Irão, têm amiúde tragédias nas suas cidades e edificado que levam à morte de milhares de inocentes. Já os povos laicos, que se baseiam na ciência e não em preces, como é o caso do povo japonês contemporâneo, conseguem lidar com o fenómeno dos terramotos de forma muito mais racional, salvando assim, milhares de vidas humanas. É que se Deus está nas alturas, será então o Diabo das suas catacumbas a agitar o movimento das placas tectónicas? E se assim o é, por que motivo o Diabo mata menos no laico e profano Japão, do que o faz nos devotos México e Irão? Demos graças a Deus por termos tido por Lisboa em 1755 o mação Sebastião José, mais conhecido por Marquês de Pombal, que, com técnicas construtivas bastante avançadas para a época, como a gaiola pombalina, apercebeu-se que para evitar tragédias futuras, mais do que uma questão de Fé, o país e o povo precisavam de um regente que se guiasse pela Ciência positivista, pela Lógica e pela Razão. Que assim o seja, ou seja, Amén!

On Dawkin's God Delusion


The atheist and evolutionary biologist Richard Dawkins wrote a very interesting book entitled God Delusion, in which, not only he refers by providing clear rational scientific reasoning that God does not exist, but also that religion is immoral and detrimental to the humanity, peace and world order. I agree with the prior and disagree with the latter. I am a Portuguese atheist and my nation has been fighting since eight centuries ago against the Spaniards on territorial disputes in homeland and overseas, and though we are two nations with exactly the same faith, Roman Catholics. Therefore it seems that religion is not the true cause for violence and aggression, it is just a surrogate or a proxy. The true cause relies on human nature and evolutionary psychology, as we evolved to be aggressive, that is, the selected individuals were the ones who presented higher aggressive groupal behaviour towards people from tribes different from them. On this subject it might be interesting to read about kin selection and Hamilton's rule, which in rough terms suggest that we tend to be evolutionary altruistic, but only to our relatives, that is, to those with whom we share a great amount of genes. Furthermore there was already violence before the existence of monotheistic or even polytheistic religions, much greater violence amongst Mankind. Indeed secular state gave a further civilised step removing religion from state affairs, but we cannot either deny that the greater horrors and genocides in the History of Mankind were perpetrated during the twentieth century when religion's influence had already dramatically diminished. More particularly, the two world wars, the holocaust, the atomic attacks on Hiroshima and Nagasaki, the gulags from Stalin or the Khmer Rouge in Cambodia, were phenomenons which had nothing to do with religious motivations, but rather secular or communistic ones. God does not exist, that is certain according to the most basic principles of reason, logic and science, and indeed there is an evolutionary explanation why we tend to believe in some supranatural anthropomorphic deity. Nonetheless I tend not to attribute such negative connotations and consequences on religion, since as the atheistic Freud referred, this non-existent mindful deity works also as a thoughts-reader punishing father that somehow lowers the probability of an individual to be prone to crime. Fear from an authority is a very powerful psychological means to prevent crime, specially if such authority is omnipotent, omnipresent and omniscient. Education is indeed and therefore the solution for us to get rid of this totalitarian authority, because the means to abolish this man-made Dictator rely on knowledge, term which in Latin gave birth to the word Science, and not on violence.

Salvini, o mero político


A religião sempre foi um meio para que déspotas e regentes assegurassem o poder, sob o pretexto de que possuíam um mandato divino para exercerem esse mesmo poder. Nas arcaicas guerras santas entre Cristandade e Islão, por muito que os devotos e os ignorantes soldados imaginassem que o que estava em causa era uma questão de fé, entre uma fé sacra com um mandato divino e outra ímpia e herege, na prática, as motivações para os confrontos bélicos resumiam-se a motivações muito mais terrenas, em particular em interesses geopolíticos e geoestratégicos. Quando o Papa Urbano II ordenou a primeira cruzada ao médio oriente, mais do que uma questão de fé, interessava sim canalizar toda o poderio bélico europeu para aumentar a área de influência da Igreja Católica, em vez de se andarem a digladiarem em disputas territoriais. Quando Maomé II, o Otomano, decide invadir Constantinopla em 1453, muito para lá das questões de fé; que de certo motivavam a plebe soldadesca muçulmana a matar os infiéis cristãos ortodoxos, sendo que estes últimos mais não faziam do que defender a sua ancestral cidade, que era sua desde o imperador Constantino; estava em causa uma questão geopolítica. Tanto assim o é, que mal é conquistada a cidade, a capital do império Otomano muda-se para a recém criada Istambul. Tanto que a questão de fé é uma questão menor nos confrontos geopolíticos e geoestratégicos, que tal nunca impediu que nações com a mesma fé se digladiassem, como aconteceu ao longo dos séculos entre os portugueses e os espanhóis, para não irmos mais longe; ou entre as diversas fações do Islão, pois não esqueçamos que quando os "soldados de Alá" não estão a fazer a Jiade estão a matar-se mutuamente.

A fé, é pois, uma procuração, um pretexto para que déspotas e monarcas exercessem o poder absoluto. Todavia a ausência de fé no estado também nunca impediu o despotismo e os interesses geopolíticos, tal como se manifestou de forma clara e sangrenta na União Soviética estalinista. Foram sim os princípios seculares, laicos, humanistas e iluministas que trouxeram os direitos civis, os direitos humanos, o estado de direito e o progresso científico aos estados modernos de cariz ocidental. O que muitos cristãos e islamofóbicos olvidam, é que o ocidente é civilizacionalmente superior às teocracias do médio oriente, não devido à sua matriz cristã, mas devido unicamente aos seus princípios iluministas, e quanto muito, devido à epistemologia que herdou da Grécia clássica. Caso a Europa não tivesse vivido o Iluminismo, estaria hoje por certo tão ou mais atrasada que qualquer país do médio oriente. Aliás, durante a idade média, os árabes eram em muitos domínios muito mais sábios que os europeus, pois criaram a álgebra, a alquimia e desenvolveram largamente a aritmética e a astronomia, para dar alguns exemplos.

Mas poderiam eventualmente os regentes manifestamente cristãos, apesar dos perigos que advêm da mescla entre estado e religião, fazerem uso de alguns dos nobres e humanistas princípios plasmados nos evangelhos. Mas nem isso! O político Salvini, que beija o seu rosário e agradece à virgem Maria em plena sessão parlamentar, é o mesmo que, na boa velha tradição católica de não ler os evangelhos, ignora completamente as palavras legadas pelo seu deus, e aquelas plasmadas na sua sacra antologia de livros. Em Salmos 41:1 é-nos referido que “bem-aventurado é aquele que atende ao pobre”, em Provérbios 11:24 refere-se que “quem dá com generosidade, vê suas riquezas se multiplicarem; outros preferem reter o que deveriam ofertar, e caem na pobreza”, em Provérbios 29:7 também se diz que “o justo se informa da causa dos pobres, mas o ímpio nem sequer toma conhecimento” e em Coríntios 13:14 menciona-se que “a caridade é sofredora, é benigna; a caridade não é invejosa; a caridade não trata com leviandade, não se ensoberbece”. Significa pois paradoxalmente que o gesto de Salvini na realidade, é um gesto, na boa velha tradição laica, com um significado e simbolismo unicamente políticos, considerando que a grande maioria da população italiana é católica, e que Salvini tinha plena consciência que a sessão parlamentar estava a ser gravada com o foco das câmaras de televisão a apontarem para o orador do momento, o primeiro-ministro que discursava mesmo ao seu lado. Salvini é pois um político perigoso para a democracia liberal, pois alia o seu populismo crónico típico de qualquer populista demagogo que evoca os medos mais primários da turba, com um calculismo político meramente especulativo e ausente de quaisquer nobres princípios, traços muito comuns em políticos como António Costa.

Liberalismo para o Verão


Comparemos objetivamente os dois sistemas,
o português e o grego, no que concerne ao modelo
de regulação e emprego dos nadadores-salvadores
Nesta época estival falo-vos de algo positivo, verdadeiramente neoliberal, que temos em Portugal e ao qual não damos o devido valor, pois o ser humano tende a desvalorizar o que tem de bom e adquirido. Falo-vos da profissão de nadador-salvador, os quais prestam um excelente serviço todos os verões, e nos quais a participação do estado é mínima ou residual e cinge-se à mera atividade regulatória e legislativa. 

Portugal neoliberal

No caso português, verdadeiramente neoliberal, caso um indivíduo queira ser nadador-salvador terá de passar com sucesso um curso regulado pelo Instituto de Socorros a Náufrago e organizado por Escolas de Formação de Nadadores-Salvadores Profissionais (entidades privadas). Aliás, desde 2016 o sistema ficou ainda mais neoliberal, pois desde essa altura que os cursos de nadador-salvador passaram a ser efetuados pelas Escolas de Formação de Nadadores-Salvadores Profissionais, deixando o Instituto de Socorros a Náufragos, através da Escola da Autoridade Marítima, de os efetuar. A validade de cada um dos módulos é de cinco anos, após os quais o nadador-salvador terá de os repetir. Os nadadores-salvadores terão depois de procurar trabalho no respetivo mercado, onde o estado não é empregador. A lei obriga a que cada concessionário de praia, bar, restaurante ou similar, seja obrigado a contratar um nadador-salvador para a praia respetiva, sendo o respetivo salário apenas definido pela leia da oferta e da procura. Apesar do salário não estar regulado, ronda em média, cerca de mil euros mensais, um valor bem superior ao salário médio nacional. Também não há limite nem numeros clausus (como nos táxis) para o número de nadadores-salvadores, qualquer cidadão que cumpra os requisitos e passe nos respetivos exames, pode ser nadador-salvador, ou seja, estamos perante um verdadeiro sistema meritocrático e de igualdade de oportunidades. Temos presente em Portugal, pois, um modelo típico neoliberal, onde a intervenção do estado é de mero regulador e legislador. O estado não é entidade patronal nem sequer é a entidade lectiva para o respetivo curso ou aquela que executa os exames de aptidão. É um mero regulador e legislador, nada mais. E perante uma matéria tão crítica como a vida dos náufragos e dos utentes das praias do país, o sistema neoliberal tem funcionado excelentemente desde há décadas.

Grécia socialista

Mas Portugal poderia ter escolhido outro modelo, não tinha que ter escolhido o modelo neoliberal. Estive na Grécia há cerca de quatro anos, mais precisamente em Creta, e presenciei na primeira pessoa o modelo socialista do nadador-salvador aí vigente. O que vos contarei poderá parecer anedótico, mas presenciei-o na primeira pessoa e garanto-vos que é totalmente verídico. Fui a uma praia grega algures nos subúrbios de Retmino e comecei a procurar espaço para a toalha, zona que estava repleta de lixo. Comecei de seguida a recolher o lixo para ter alguma salubridade envolvente, e de repente, um indivíduo calvo na zona central do escalpe e bastante cabeludo nas zonas laterais, com um cabelo grisalho e com cerca de sessenta anos, com uma enorme protuberância abdominal, em tronco nu e de calções vermelhos, aproxima-se de mim e refere-me num inglês torpe para não me preocupar porque a sua esposa seria a responsável pela limpeza da praia, apontando de seguida para uma senhora de certa idade algures sentada num banco de campismo e acompanhada de um pequeno caniche. No instante em que o indivíduo aponta para a sexagenária, a sua alegada esposa responsável pela limpeza do local, o referido canídeo está a defecar na areia, fezes as quais cobre posteriormente fazendo uso das patas posteriores. A senhora em vez de repreender o animal, acaricia-o no lombo, talvez por este ter tapado os seus dejectos fecais prontamente.

Apercebi-me mais tarde que o referido sexagenário, cabeludo, com uma enorme protuberância adnominal, em tronco nu e de calções vermelhos, era o nadador-salvador da praia onde me encontrava. Era pois, naturalmente, funcionário público. A sua respeitosa esposa, também ela funcionária pública, era a responsável pela limpeza da praia. Estavam os dois sentados cada um, por norma, num banco de campismo numa posição "estratégica", isto é, no ponto mais longe de água, logo ao início da areia. O que vale aos banhistas é que o Mediterrâneo é um mar tranquilo pois este senhor jamais conseguiria resgatar alguém. Este nadador-salvador terá com certeza passado com sucesso no respetivo exame de aptidão quando tinha dezoito anos, altura, por certo, em que entrou definitivamente para os quadros do estado. Considerando que, certamente, era um funcionário público com vínculo efetivo ao estado, por lá foi ficando independentemente de quaisquer circunstâncias, desde a idade, preparação física ou protuberância do abdómen. Desde então nunca mais terá feito qualquer exame ou teste, e na Grécia, tal como em Portugal, é praticamente impossível despedir um funcionário público.

Conclusão

Numa matéria tão crítica como a vida dos náufragos, Portugal fez a escolha acertada e correta que se tem revelado deveras positiva para todos: o modelo neoliberal. Imaginemos que Portugal teria escolhido há décadas a versão socialista adotada na Grécia, e que, algum governo posteriormente quisesse adotar o modelo neoliberal hoje vigente. Imediatamente ouviríamos da esquerda vozes de protesto, referindo, a título de exemplo, "que o direito ao trabalho é um direito constitucional e que não se podem descartar as pessoas", ou que "o estado não pode entregar aos interesses privados e do lucro a vida dos banhistas". Agora tentem aplicar esta dicotomia à educação ou à saúde, e vede que Portugal adotou o modelo socialista enquanto que a Holanda, por exemplo, adotou o modelo liberal.

Governo de padeiros


O caso mais recente da "barracada" socialista no que concerne à encomenda de golas inflamáveis para proteção das populações, é o resultado de termos abandonado de vez a tecnocracia (poder aos técnicos) e termos entregado o país à escumalha mais inútil e incompetente, cuja única característica é ter o sangue dos membros sediados no largo do rato, e para quem a única exigência na política se resume à retórica, ao marketing junto da comunicação social e à arte de encantar corações. Basta ver a purga que o PS fez na Proteção Civil colocando gente sua formada em desporto e história a comandar operações de combate aos fogos e como isso se pagou muito caro com vidas humanas. O aldrabão-mor Costa preferiu, numa matéria tão crítica como a proteção de vidas humanas, a lealdade à competência; preferiu conter as fugas de informação para a comunicação social a conter os fogos. Se exigimos mil e um requisitos técnicos a um piloto de aviação civil, a um médico ou até um electricista, porque raio nos deixamos governar por esta escumalha incompetente e analfabeta funcional? Da próxima vez que o ministro Cabrita tiver de ser operado às cataratas, talvez não seja má ideia que o cirurgião seja um irmão socialista licenciado unicamente em Direito; e no próximo voo que Carlos César efetuar até aos Açores, recomenda-se também que o critério principal para escolher o comandante da aeronave sejam os laços de consanguinidade com o líder socialista.

Este é o motivo principal pelo qual Sócrates, o Ateniense e não o Beirão, nunca acreditou na Democracia. Na República, Volume VI, através da pena de Platão, Sócrates dá o exemplo do navio que passa pela tempestade: deverá o comandante ser eleito pelos marinheiros e tripulação ou ser aquele com maior competência para pilotar o navio? No caso do modelo democrático, além de se perder tempo na escolha do melhor piloto para a embarcação que atravessa a tempestade, teríamos, de acordo com Sócrates, um debate técnico em torno de matérias tão complexas como a navegação marítima, a qual a tripulação pouco ou nada compreende, deixando-se levar unicamente pela pathos (emoção) discursiva. Sócrates ainda nos dá o exemplo da escolha entre dois candidatos, onde um seria um vendedor de doçarias, enquanto o outro seria um técnico que mais não faria do que explicar detalhadamente como funciona determinado processo, ou seja, o primeiro encantava a audiência qual publicitário enquanto o segundo com o seu discurso complexo e elaborado diria a verdade, independentemente do sentimento da audiência. O primeiro seria naturalmente o escolhido. Hoje em dia nas mais variadas tarefas da nossa vida, não escolhemos o modelo democrático. O piloto do avião que nos leva a casa não é o eleito pelos passageiros, mas o que é competente; o médico que nos opera não é o eleito pelos doentes, mas o que está inscrito na ordem dos médicos e os engenheiros civis que fazem os cálculos para as habitações, não são os eleitos pelos residentes, mas aqueles que têm um curso superior na respetiva área. Há apenas um domínio onde a competência do indivíduo é completamente desprezada: a gestão de um país. Infelizmente, Sócrates, o Ateniense, parece que tinha razão.

O eixo do mal, do PS, dos dois pesos e das duas medidas


Estas alforrecas intelectuais, exceção feita ao membro do sexo
feminino, apesar da aparência de Homo Sapiens,
não fazem parte do filo dos cordados.
Nem sei porque ainda perco o meu precioso tempo a ver televisão portuguesa com tanto programa bom que abunda no acervo da "web", contudo, porque não quero olvidar a minha madre língua, escuto da televisão portuguesa alguns programas, entre os quais o denominado "eixo do mal", com Daniel Oliveira, Pedro Lopes, Clara Ferreira Alves e Luís Nunes. A tendência para serem todos, repita-se todos, o "moderador" e mais os seus comentários parcimoniosos inclusive, pró-PS e pró-Costa é tão gritante, que é não preciso recuar muito tempo para ouvir o que estas sumidades disseram a propósito do facto de Antonio Costa ter ido ao programa da Cristina Ferreira no dia de Carnaval para cozinhar uma cataplana, e contrastar o mesmo discurso com o facto de Assunção Cristas ter colocado recentemente a votação o seu estilo de penteado. 

O que os prejudica, para não usar um termo do vernáculo com quatro letras e iniciado com a mesma letra inicial da sagrada palavra Fátima, é que a televisão para a qual trabalham tem um magnífico acervo, e basta para tal recuar ao dia 8 de março do presente ano, para analisar na altura o que dizia, a título de exemplo, Daniel Oliveira sobre esta moda de os políticos quererem estar mais junto das pessoas. A partir do minuto 14 do referido programa e a propósito do facto de António Costa ter ido cozinhar uma cataplana à "casa" da Cristina Ferreira, diz Daniel Oliveira ipsis verbis:
"É evidente que isto não é populista, quanto muito é, o termo que um snob diria, popularucho (...) mas política sem manipulação emocional nunca foi inventada, mas isto está completamente dentro dos limites, eu não gosto da exibição da vida privada, não gosto da minha e prefiro políticos que não o façam (...) eu não tenho nenhum julgamento moral sobre esse assunto, é uma escolha que as pessoas fazem e depois têm de saber viver com isso. (...) Há de facto uma diferença entre ser populista e querer ser popular, querer ser popular é uma condição para ser político, (...) ou seja, se o preço a pagar para não ter um discurso populista em Portugal é este, eu pago em dobro, não tenho nenhum problema com isso, e digo uma coisa, acho que a coisa melhor para um populista é políticos que não querem ser populares".
E o que dizia o mesmo Daniel Oliveira, com aquele ar solene, pedante e arrogante, no programa do dia 19 de julho de 2019, cerca de quatro meses depois, a partir do minuto 26:
"As pessoas querem no poder uma pessoa que seja parecida com o vizinho, com o amigo, com o primo, uma pessoa a quem eu compraria um carro, iria beber um copo e essas coisas todas, eu acho que isto está além de dessacralizar a democracia, que tem os seus ritos e que tem de ter os seus ritos, está a banalizar o poder, e sobretudo criou uma falsa ideia de proximidade, que é mentira, aliás ela é criada para substituir a proximidade do poder que interessa, que é um estado eficaz, que está aberto a ouvir as pessoas, que é o estado democrático; esta falsa ideia de proximidade (...) sobretudo para mim isto esvazia o debate político".
Pedro Marques Lopes, outro impostor intelectual que muda de opinião como quem muda de camisa, diz ipsis verbis no mesmo referido programa de 8 de março de 2019, ao minuto 10:
"Nós vivemos numa época em que há aquela imagem dos políticos muito distantes das populações, não há reflexo dos políticos em relação às pessoas, e isto mal ou bem humaniza os políticos, isto não tem rigorosamente nada a ver com populismo, nada, isto tem a ver com uma coisa que é diferente, que é a tentativa de obtenção de popularidade".
Mas o que disse o mesmo Pedro Marques Lopes quatro meses mais tarde a 19 de julho, a partir do minuto 37:
"De facto nós temos uma circunstância onde, e nota-se isso nos líderes políticos, em que as primeiras escolhas estratégicas dos políticos são a escolha do seu consultor de comunicação, da sua agência de comunicação, e não sendo isso mal por si mesmo, porque todos eles precisam de pessoas que tratam da comunicação, é para tratar de embrulhos, é para tratar doutro tipo de coisas, é para fazer imagem política e o que aqui se fez foi também criar uma imagem política. Isto para mim é muito grave pelo seguinte (...) isto pode parecer catastrofista, vejam lá que mal é que tem? Tem, porque isto não é a função do político que depois nos empurra a ir à vida privada dos políticos e tirar conclusões sobre a sua atuação política".
Conclusão

Pelo facto de António Costa ter cozinhado, de avental ao peito, cataplanas em programas de televisão com grande audiência, significa apenas que quer estar junto das pessoas e que quer ser popular, e portanto, deve ser louvado porque assim, combate o populismo. Pelo facto de Assunção Cristas ter colocado a votação democrática o seu penteado, significa todavia apenas que não passa de uma política maquiavélica dominada pelo embrulho do marketing, esvaziando o seu discurso de conteúdo político. E assim vai a idoneidade e neutralidade do comentariado da nossa comunicação "social".

A minha opinião

A mim pouco me interessam estas "palhaçadas" feitas por políticos, analiso apenas a coerência argumentativa destas pseudo-sumidades intelectuais, que recentemente também já clamaram que perante a crise que afeta a comunicação social, devemos todos nós começar a pagar-lhes o soldo semanal para dizerem umas e certas determinadas coisas na TV, claro está, sempre em abono do governo socialista. Qual a diferença entre cozinhar uma cataplana de peixe num programa de grande audiência onde aparece toda a família e onde a respetiva esposa fala do enorme leque de ex-namoradas do marido, e colocar a votação nas redes sociais o próprio penteado? Um político que exija respeito necessita naturalmente de alguma gravidade, mas por outro lado, excesso de gravidade tal como tinha Cavaco Silva, pode transmitir a ideia de afastamento do eleitorado. Naturalmente que é preciso encontrar um equilíbrio entre a propaganda/proximidade e o conteúdo político-ideológico, entre a pathos e o logos, sendo que no meu entender Marcelo Rebelo de Sousa é quem melhor executa e domina tal equilíbrio. O que não podemos ter, é certos e determinados comentadores que não têm qualquer cargo político, e por isso detêm em teoria muito mais liberdade argumentativa, serem mais parciais e facciosos que os tipos do PCTP-MRPP.

A Prof. Dra. Bonifácio precisa de sexo!


Crânio grande e quadrado, um traço fenotípico masculino;
extremamente inteligente e extremamente erudita;
à data que escrevo tem 71 anos, muitos dos quais
presumivelmente em abstinência sexual forçada;
pouco feminina e pouco atraente sexualmente.
Sintoma: neurose; prescrição: sexo!
Considero que o texto da historiadora e professora doutora Maria Bonifácio sobre os negros e os ciganos é simplesmente abjecto, está repleto de generalidades e falsidades já muito rebatidas e, por isso, não vou gastar o meu Latim com o conteúdo do texto da profesora doutora, até porque muito já foi escrito a propósito. Todavia cingir-me-ei a uma crítica ad hominem que já havia evocado a propósito da articulista do Observador Helena Matos. No bairro onde cresci na freguesia de Marvila, as mulheres da vida quando se deparavam com comportamentos demasiadamente azedos ou ásperos por parte de senhoras respeitáveis, lançavam umas interjeições e uns impropérios, cujo conteúdo mais tarde vi confirmado quando li alguns textos sobre psicanálise freudiana. Diziam as sopeiras e mulheres a dias às respeitadas senhoras que frequentavam religiosamente a homilia dominical: "o que tu precisas é de homem"! Por vezes o substantivo "homem" era substituído por uma sinonímia anatomicamente bem mais específica, obscena e viril. Espantado fiquei quando me deparei que os textos de Freud diziam exatamente o mesmo para explicar a histeria e a neurose femininas, mas para tal, precisava o neurologista austríaco de dedicar 300 páginas da sua vasta obra, quando a sopeira sintetizava tamanho princípio psicanalítico em uma única oração. Como explanei a propósito de Helena Matos, mulheres heterossexuais muito eruditas e inteligentes, tendem a ter dificuldade em encontrar parceiro sexual, porque a seleção sexual a partir da teoria da evolução, tendeu a escolher casais onde o homem fosse mais inteligente do que a mulher (não estou a dizer que deve ser assim, mas em média, perante escolhas livres dos parceiros, tende a ser). Por conseguinte, mulheres inteligentes heterossexuais tendem a ser extremamente exigentes na inteligência do parceiro masculino, e demais tendem a negligenciar a sua própria aparência física, pois consideram que se tratam de questões frívolas e menores em relação ao domínio intelectual. Além disso, muitos homens heterossexuais, inteligentes ou não, dão muitas vezes mais primazia às características físicas do que propriamente intelectuais das potenciais parceiras femininas. Jordan Peterson tem vastos trabalhos sobre esta questões com enfoque para as questões profissionais. Ou seja, mulheres heterossexuais muito inteligentes e eruditas têm assim mais dificuldade em encontrar parceiro sexual satisfatório em relação às demais. Quando chegam à meia-idade, devido a vários anos de abstinência sexual forçada, considerando que a sexualidade é uma necessidade primária, por muito que não morramos quando não a satisfazemos, começam a entrar no nível de histeria (palavra proveniente do Grego que deu origem também à palavra "útero") e neurose, que se manifesta de forma clara em diversas fobias e azedume comportamental. Embora Freud se tenha focado nas mulheres, este argumentário aplica-se mutatis mutandis aos homens. Freud também nos refere que homens neuróticos normalmente têm tendências homossexuais reprimidas. Aliás, a neurose de acordo com a teoria psicanalítica é isso mesmo, uma abstinência ou repressão, através da cultura, experiência ou educação, dos desejos sexuais primários, em que a "carga sexual" (as aspas porque sou formado em ciências exatas e considero que muito de Freud é mera pseudociência) encontra como escape um comportamento despeitoso, fóbico ou verborreico, como que a pedir atenção daqueles que rodeiam o indivíduo. A neurose é tão importante na teoria psicanalítica, que foi mesmo a maior inspiração para que Freud abandonasse a neurociência para criar a psicanálise, pois concluiu, perante o sofrimento das suas pacientes, normalmente mulheres neuróticas da aristocracia vienense, que a mera explicação neuro-científica não era suficiente. Assim, tal como Freud prescreveu e vaticinou, estas senhoras precisam de sexo, o mais catártico, viril e energético possível. Recomenda-se portanto à professora doutora uma noite "bem passada" com um jovem guineense baptizado, avantajado e assimilado, de preferência formado em História de Arte, com doutoramento em pináculos de catedrais do Gótico e especialização no período francês revolucionário. Para bem da ordem pública e da sua saúde!

Da questão de fundo: as quotas para negros e ciganos

Em relação à questão de fundo, a doutora tem plena razão. Com referência às quotas para certas minorias em função de traços fenotípicos ou genéticos, é querer transformar o Parlamento numa espécie de Arca de Noé multicultural. Quando era catraio e me contavam da fábula do Noé, nunca percebi como é que o Noé e a sua família apanhavam as milhões de diferentes espécies de insectos, a maioria voadores, sendo que os insectos não são uma questão somenos pois representam 80% das espécies existentes no planeta; tenho pena que renomeados teólogos e os mais conceituados hermeneutas do antigo testamento nunca se tenham debruçado com a questão dos insectos e do Noé, pois há aproximadamente 1,5 milhões, 5,5 milhões e 7 milhões de espécies de coleópteros, insectos e artrópodes terrestres, respectivamente. Teria Noé à sua disposição uma rede mosquiteira? São as grandes questões do nosso tempo! Em relação ao Parlamento ser a Arca de Noé socio-étnico-genético-fenotípico-cultural da nacionalidade portuguesa, pouco me importa pois não passam, grosso modo, de um coio de inúteis e incompetentes que nunca teve uma profissão decente e produtiva na vida, e tal como vaticinava o Grande Senador Tiririca, "pior do que está não fica". Mas a escumalha socialista quer alargar as quotas à Academia. Aí sim, a Porca torce o rabo (falando em porcas, será que o Noé levou para a arca apenas pares de espécies sexuadas, ou levou também hermafroditas, e destes, um ou dois indivíduos de cada espécie?)! Além das quotas na Academia incentivarem o racismo e a xenofobia, porque dir-se-á imediatamente que fulano ou sicrano entrou na academia apenas devido às suas características étnico-sociais e não ao mérito, mina a credibilidade e a competência da academia como pilar mestre na educação das gerações vindouras. Que os senhores deputados redijam leis inúteis ou improcedentes pouco me importa, que na legislatura seguinte pode ser tudo facilmente reescrito ou revertido, mas minar a Academia com a valorização da incompetência e da mediocridade em função de traços genéticos, culturais ou fenotípicos e não de qualidades objetivas e meritórias, é destruir o futuro da formação e educação de qualidade desta ínclita nação. Está de Parabéns em todo o caso a doutora Bonifácio por ter posto os pontos nos i em relação a tamanha bestialidade intelectual, que só poderia provir naturalmente de um socialista.

Homem-hora no SNS


Por um lado vemos os jornalistas a reportarem o caos diário no Serviço Nacional de Saúde (SNS), e por outro vemos os membros do governo referindo que nunca houve tanto investimento e tanto pessoal contratado para o mesmo SNS. Mas será que ninguém sabe fazer contas ao homem-hora, ou pessoa-hora para ser inclusivo? Quando um programador dedica uma hora a desenvolver um determinado programa informático, resulta no mesmo número de homens-hora, que dois programadores a dedicarem cada um meia-hora. Qualquer gestor de projetos ou empresa, em que um dos ativos principais sejam os ativos humanos, tem plena consciência do factor pessoa-hora alocado aos projetos e quanto custa, em média, cada pessoa-hora. Com a passagem das 40 horas para as 35 horas semanais, o número de pessoas-horas no SNS baixou 12%. E é o número de pessoas-horas o activo humano mais importante em qualquer serviço ou produto onde a contribuição humana seja o ativo mais importante, desde o desenvolvimento de um programa informático até à prestação de serviços de consultoria. No SNS é um ativo valioso, senão o mais valioso, na medida que os profissionais, isto é, o seu tempo alocado ao serviço, são o ativo mais importante no SNS. Se com a passagem para as 35 horas, o número de pessoas-hora baixou 12%, a ministra da saúde diz-nos que "o SNS teve um acréscimo de 10.816 pessoas, um aumento de 9%". Portanto não chega para compensar o decréscimo no número de pessoas-hora, isto é, o sistema continua com menos pessoas-horas em relação ao governo anterior. 

Como o SNS tem menos pessoas-hora em relação ao governo anterior, a qualidade do serviço prestado aos utentes piorou. E o governo também tem razão, porque com a passagem para as 35 horas, o salário mensal manteve-se, querendo isto dizer que o salário horário aumentou 12%, significando portanto que a despesa com pessoal aumentou significativamente para o mesmo número de homens-hora, considerando demais que o governo contratou mais pessoal. Quem afinal tem razão, o governo ou a oposição? Ambos! Mas tal revela de forma cristalina quais foram ab initio as prioridades deste governo: saciar as reivindicações do funcionalismo à custa da degradação dos serviços públicos. Embora a esquerda seja tradicionalmente ateia, convém lembrar-lhes que o ateísmo deve ser alargado às contas públicas, isto é, da mesma forma que Jesus não multiplicou os pães e os peixes, porque não há milagres, Centeno também não consegue multiplicar os euros onde não existem. A Política é feita de opções, opções legítimas na maior parte dos casos; mas há gente politicamente medíocre e demagoga que ainda não está disposta a enfrentar as consequências das opções políticas que defende.

Daniel Oliveira vai às cerejas


Cherry picking é das falácias mais usadas na Política
Uma das falácias mais conhecidas na política e na ciência é a falácia da "evidência suprimida", ou seja, sem mentirmos, dizermos apenas as verdades que corroboram as nossas ideias e os nossos interesses. Para nos apercebermos do enorme poder falacioso desta falácia, vejamos que se desconsiderarmos, no caso da astronomia, os conhecimentos que detemos sobre os restantes planetas e nos focarmos apenas nas evidências que observamos sobre o percurso do Sol em torno da Terra, podemos afirmar que a teoria geocêntrica é a correta. Até Galileu ter descoberto as variações no brilho de Vénus com o auxílio de um telescópio, ou seja, até ter adicionado factos e evidências ao conhecimento científico de então, a teoria geocêntrica tinha mais sustentação do que a heliocêntrica. Basta imaginarmos que quer o Sol durante o dia, quer as estrelas durante a noite, aparentam circular em torno da Terra. Se omitirmos o que hoje sabemos desde então e nos cingirmos apenas ao conhecimento que a Humanidade detinha pela altura de Galileu, isto é, se selecionarmos as verdades, podemos afirmar categoricamente que a teoria geocêntrica é aquele que faz mais sentido. 

Outro exemplo mais corriqueiro para que o comum dos mortais o apreenda: se um marido tiver estado naquela noite com a amante, e ao chegar a casa a esposa lhe perguntar "por onde andaste?", e este responder "estive na casa do Manuel", o marido pode estar a ser completamente honesto com a esposa, mesmo que tenha estado a fazer sexo com a amante na casa que o Manuel lhe emprestou para o efeito. Em Inglês esta falácia toma um termo muito interessante, mais precisamente cherry picking, ou seja, a "apanha da cereja". Quem já foi para a apanha da cereja sabe perfeitamente que a tática para que o cabaz seja apresentável, é apanhar apenas as cerejas que estão em bom estado e negligenciar as que estão em mau estado. Quando um consumidor se depara com um cabaz de cerejas, raramente consegue distinguir a qualidade da apanha, ou se foi um bom ano ou um mau ano, exatamente porque quem as colhe, escolhe sempre apenas as que estão em bom estado. Na Política, e principalmente na Ciência, escolher as verdades convenientes e omitir as que não nos interessam, é das falácias mais perigosas, porque damos uma noção totalmente errada dos factos sem nunca necessitarmos de mentir.

E desta vez foi Daniel Oliveira que mais uma vez foi às cerejas, o que revela que é um indivíduo fortemente faccioso. Refere Daniel Oliveira muito exaltado, como se o tom da sua voz fosse proporcional à veracidade das suas afirmações, que Portugal é dos países com menos funcionários públicos em percentagem da população. E Daniel Oliveira tem razão. Portugal tem apenas 67 funcionários públicos por cada mil habitantes, enquanto a Noruega, por exemplo, tem 158. Portugal aparece, como é visível no seguinte gráfico, em sexto lugar a contar do fim.

Número de funcionários públicos por mil habitantes. Fonte.

O que Daniel Oliveira não nos diz, porque é a pessoa ideologicamente mais facciosa com notoriedade pública, é que os funcionários públicos portugueses são dos mais caros da Europa em função da riqueza que cada português produz, i.e. cada funcionário público custa 1,7 vezes o nosso PIB per capita, o quarto valor mais alto da UE.

Custo de cada funcionário público em relação ao PIB per capita. Fonte

E este de facto é o gráfico que interessa salientar, caso precisemos de escolher um dos dois acima. Ou seja, o que é que me interessa, enquanto cidadão e utente dos serviços públicos, que haja muitos ou poucos funcionários públicos, considerando que a multiplicação obedece a uma propriedade comutativa, isto é, 100 funcionários públicos auferindo cada um 1000 euros resulta na mesma despesa que 1000 funcionários públicos auferindo cada um 100 euros? O que me interessa, de facto, como contribuinte e utente dos serviços públicos é saber quanto é que me custam os funcionários públicos em relação aos meus rendimentos, e qual a qualidade dos serviços públicos que me prestam (rácio input/output). Da mesma forma que, na maior parte dos casos para um consumidor, o mais importante é o rácio qualidade/preço.

Estamos em ano de eleições, e por coincidência, também na época da apanha das cerejas. Bom apetite! E já sabeis, se quereis conhecer a qualidade da apanha, ide à cerejeira e não vos fiqueis pelo cabaz de supermercado!

Porca burguesia motorizada


Quem é mais "porco-javardo"?
Aquele que polui o ar matando ou aquele que defeca no chão?
A psicologia evolutiva ajuda a explicar os paradoxos para os epítetos mais ofensivos no que concerne à salubridade de cada um e à sua relação com os outros, considerando que o Homo Sapiens é um animal grupal. Façamos este exercício teórico e hipotético: caso o caro leitor observasse um seu concidadão a defecar no espaço público no meio de uma praça, diria de imediato naturalmente como pessoa de bem, que o indivíduo não passaria de um "porco javardo"! Chamaria as autoridades e o infrator seria julgado em conformidade. O mesmo se passaria para quem urina na rua ou escarra sobre o passeio. Não passam de "porcos javardos", diria o prezado leitor. Mas porquê, cientificamente falando? Porque os dejectos fecais, urinais ou nasais de estranhos, desde tempos remotos durante a evolução dos hominídeos, ou mesmo dos mamíferos, sempre foram extremamente severos para a saúde, pois contêm toda uma série de microorganismos e bactérias extremamente prejudiciais para o ser humano. Aliás, até ao advento das cidades modernas e respetivos sistemas de saneamento básico, muita gente morria devido a toda uma série de patologias relacionadas com os dejectos. É natural, pois, considerando a evolução por seleção natural, a mesma que seleciona os mais aptos e não os mais fortes (selection of the fittest) que tenhamos guardado repulsa instintiva contra qualquer tipo de dejectos humanos, principalmente de estranhos.

Contudo os anacronismos antropoevolutivos são de facto fantásticos, pois temos instintivamente muito mais repulsa por dejectos fecais de estranhos, do que propriamente por cianeto, monóxido de carbono ou dejectos radioactivos. O próprio Freud dedica grande parte do seu estudo aos paradoxos do nojo, referindo por exemplo que um homem não tem nojo em beijar na boca uma melhor jovem e bonita, mas tem nojo em lamber o seu aparelho dentário caso esta use um. Temos mais nojo e repulsa por dejectos humanos de estranhos, do que temos por dejectos de automóveis ou centrais nucleares. Temos muito mais nojo das fezes do vizinho, do que temos dos gases que saem do seu velho automóvel a gasóleo; e se no paleolítico os primeiros eram letais, hoje em dia são os segundos que são letais. Assim, faço uma pergunta sincera ao leitor: preferiria ingerir 10 kg de fezes provenientes de 20 sem-abrigos com a respetiva lenta degustação, ou 1 kg de cianeto, considerando que consta que a ingestão de uma dose de 0,5 a 1 mg de cianeto é suficiente para matar instantaneamente um adulto? É por isso que sempre disse que um automobilista, por muito que não o sintamos, não passa de um porco burguês motorizado, porque polui o ar que todos respiramos. O paradoxo é que a referida poluição automóvel não se vê, não causa nojo nem repulsa, mas causa muitas mortes, mesmo milhares de mortes anuais apenas em Portugal. Vejamos, por exemplo, esta excelente reportagem televisiva que nos indica que vários automobilistas removem o filtro de partículas dos carros a gasóleo, para assim poupar alguns milhares de euros; mas contudo contribuem para que terceiros contraiam diversas patologias como cancro do pulmão, asma crónica, diabetes ou até mesmo demência. Apenas em 2017 morreram 3540 pessoas devido à poluição atmosférica em Portugal.

Afinal, quem é o porco javardo? O que pega no volante ou o que escarra no chão?

Internet vs redes sociais


Há muita gente que comete o erro comum de confundir redes sociais, que indubitavelmente alavancam o efeito de manada na turba ao qual a psicologia evolutiva dedica grande parte do seu estudo, com Internet em geral, onde há plataformas onde reinam a civilidade e urbanidade no debate público e onde qualquer trol ou grunho são imediatamente expulsos. Alguns bons exemplos são sítios que usam as plataformas Discourse ou Disqus.

A Internet é o espelho aumentado, libertário e freudiano da sociedade: tem crime, prostituição, pedofilia, proselitismo, devassa, cultura, mecenato, solidariedade, informação, ciência, saber, arte, cinema, terrorismo, pornografia, bricolagem, programação ou economia. Enfim, estão na Internet desde as coisas mais nobres até às mais terríveis que o Homem alguma vez concebeu. Desde a maior enciclopédia alguma vez redigida e coligida cujo acervo e rigor ultrapassa em muitos milhões de caracteres o acervo da biblioteca de Alexandria, até aos vídeos de ódio e decapitações ao vivo mais desprezíveis e horrendos do estado islâmico. A Humanidade é a mesma, o Homem o mesmo, do reino animal, do filo dos cordados, da classe dos mamíferos, da ordem dos primatas e da família hominídea, e portanto não há nem desilusão nem deslumbramento perante a raça humana. Há sim que aproveitar as maravilhas que a tecnologia providencia para os atos mais mundanos, como requerer um táxi até ao local exato onde nos encontramos. Ou ainda usar a Internet para os atos que a Humanidade civilizada considera desde há muito nobres, como a educação, a arte ou a cultura, e assim vermos um bom documentário no YouTube ou encomendarmos um bom livro na Amazon. 

Da alegada pseudociência em torno do programa do PAN


Recentemente um artigo do Observador com vasta repercussão criticava acerrimamente o partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) por este ser alegadamente promotor das pseudociências, na questão do receio que a opinião pública tem aos produtos transgénicos e na questão das medicinas ditas alternativas. Não conheço o programa total do PAN, mas se atacam os produtos transgénicos dececionam-me, pois normalmente esses ataques vêm de gente desinformada, considerando que desde o Neolítico que o Homem, através de seleção artificial, escolhe certas características de produtos agrícolas e animais, que surgem através de mutações genéticas durante a concepção e a que chamamos seleção artificial. Um porco é, evolutivamente, um javali cujos genes associados ao pelo foram suprimidos através de seleção artificial. O mesmo para a maioria das frutas e legumes que comemos hoje, ou nunca pensaram porque motivo as bananas já perderam caroços, ou seja, as sementes essenciais a qualquer árvore de fruto para que se possa reproduzir?

Em relação às terapias ditas alternativas, pela literatura que tenho lido e por experiência própria, apesar de não serem eficazes para a maioria das patologias, como obviamente as oncológicas, são sempre inofensivas. Ademais há estudos de entidades renomeadas e idóneas, no caso das patologias do foro psíquico como a depressão, que referem que, por exemplo o Ioga, tem efeitos psiconeuronais positivos, na medida que reduz os níveis de estresse e ansiedade, sendo que é prática médica, com o conluio das farmacêuticas, exagerar na prescrição deste tipo de fármacos anti-depressivos. Em qualquer caso deverá caber sempre ao médico, e não à classe política, decidir a terapêutica indicada para cada doente.

E também é óbvio que o programa do PAN ultrapassa e muito estas duas questões. Os partidos do sistema demonstram um total desprezo por causas ambientais, vede a título de exemplo o recente caso do novo aeroporto da margem sul cujo programa de impacto ambiental foi rotundamente ignorado, ou como Sócrates autorizou, enquanto ministro do ambiente, uma enorme Catedral do Consumo em plena reserva de proteção ambiental em Alcochete, ou ainda o conluio com a indústria automóvel e o greewashing respetivo na promoção de carros "mais verdes", quando os transportes públicos são muito mais ecológicos que quaisquer veículos particulares, independentemente da sua propulsão, considerando que é extremamente ineficiente alocar a força de 90 cavalos para puxar uma pessoa mais uma tonelada de metal. Nunca se questionaram que, quer o comboio, quer o elétrico, quer o metropolitano são também veículos elétricos? E porque não vemos o marketing agressivo em torno destes veículos, como vemos nos carros de 100 mil euros da Tesla? E se comer frutas e legumes é, como todos os estudos apontam, muito mais saudável que comer hambúrgueres ou batatas fritas, porque não vemos o marketing agressivo em torno dos primeiros como vemos nos segundos? 

Não nego que não haja alguma pseudociência associada a certos ideários do PAN, mas negar que vivemos numa sociedade desenhada para sermos mal alimentados, com excesso de gorduras animais, carnes e fritos, e que gasta milhares de milhões por ano posteriormente em saúde num ciclo vicioso de crescimento económico, é negar as evidências. Vede o caso dos EUA, que é o país que de longe gasta mais dinheiro per capita em saúde, sendo que o cidadão comum tem uma esperança média de vida e uma qualidade de vida miseráveis para um país Ocidental. E antes das questões ideológica, tal deve-se a práticas alimentares completamente insalubres e irracionais. Não; não quero controlar o que cada um enfia pelo esófago, faço apenas, tal como Aristóteles postulou, Política!

Quanto ganham os professores em Portugal


A polémica em torno da contagem do tempo de serviço para a classe dos professores trouxe para o debate no espaço público duas abordagens políticas sobejamente conhecidas e antagónicas: por um lado, a ira das redes sociais contra "essa classe de privilegiados", quando estranhamente a mesma ira não se aplicou contra o saque descarado que a banca fez ao erário público; por outro lado, temos os comentadores e comendadores de esquerda da nação, como o mui sapiente dr. Francisco Louçã, referindo-nos que o governo fez muito mal em colocar a população contra os professores, pois, segundo o professor universitário, estes seriam mal pagos. É natural e compreensível que a população queira inquirir, não numa lógica de guerrilha contra a classe docente mas numa lógica numérica e factual, quanto de facto auferem os professores, até porque os seus salários são obtidos do orçamento de estado, o mesmo orçamento que obtém receita através da fiscalidade aplicada a toda a população.

Assim, apresento-vos os dados comparados dos rendimentos dos professores em Portugal, para diferentes níveis de ensino e para diferentes níveis de experiência profissional, no quadro da União Europeia. Repare-se que os valores para os rendimentos são brutos, o que torna a análise mais pertinente, pois todos os cidadãos da Europa, para o país correspondente, pagam impostos sobre os rendimentos de forma igualitária para o mesmo nível de rendimentos, independentemente da natureza do empregador, seja funcionário de um estado ou de uma empresa privada; sendo que os valores são também apresentados em Paridade Poder de Compra, ou seja, já têm em consideração os níveis de vida e os salários médios em cada país, sendo que tal é também relevante pois são os cidadãos contribuintes, no caso do ensino público, que pagam os salários aos professores através da fiscalidade. Por conseguinte, a Paridade Poder de Compra permite fazer comparativos entre os salários dos professores e os demais trabalhadores do estado membro da União Europeia. Ademais este relatório, ao contrário de outros citados amiúde na imprensa como os da OCDE, é recente, pois faz referência ao biénio de 2016/2017.

Logo, apresenta-se no seguinte gráfico os salários anuais brutos em Paridade Poder de Compra, para diferentes escalões de professores a tempo inteiro, em diferentes países da União Europeia. A fonte é o Eurostat, mais precisamente a página 15 do Relatório Teachers' and School Heads' Salaries and Allowances in Europe. Os valores dizem respeito ao biénio de 2016/17.



Já os dados salariais do gráfico seguinte obedecem às mesmas premissas, mas dizem respeito apenas aos professores do nível secundário. Repare-se que os professores portugueses no topo da carreira do nível secundário aparecem com um salário anual bruto de 55524€ (este valor é em Paridade Poder de Compra, tendo como referência a média salarial europeia no ano de 2016), aparecendo em sétimo lugar numa lista com 40 estados.

Salários anuais brutos em Paridade Poder de Compra, para diferentes escalões de professores a tempo interior do nível secundário, em diferentes países da União Europeia. Fonte: Eurostat, Teachers' and School Heads' in Europe, 2016/17, página 15.

Tempo é dinheiro, já diziam os neoliberais


Os professores em Portugal são como as forças armadas da Venezuela, ou seja, progridem todos automaticamente com o decorrer do tempo. Não admira que haja mil generais na Venezuela enquanto nos EUA, a maior potência militar do planeta, haja apenas trezentos. No caso dos professores, faça chuva ou faça sol, cataclismos ou crises financeiras, a progressão da carreira necessita obrigatoriamente de fazer parte do rol dos acontecimentos. Ou seja, a progressão dos professores não depende das suas ações individuais como profissionais da educação, do seu mérito pessoal, da capacidade que têm para transmitir conhecimento aos alunos, nem muito menos, como se tem visto, do meio económico e social envolvente. A progressão dos docentes depende, pois, única e exclusivamente de uma coisa chamada relógio. E não há instrumento mais socialista do que um relógio: independentemente da cor ou feitio, analógico ou digital, no mundo terreno onde a Teoria da Relatividade Geral é negligenciável, o tempo é igual para todos. E tempo é dinheiro, sempre disse a "tralha neoliberal", os quais Mário Nogueira jura repudiar como afincado comunista que é.

A esquerda na sua magna irresponsabilidade financeira é coerente em si mesma. Ouvimos todos os comentadores de esquerda a evocarem a sacra coerência da esquerda nesta matéria, como se fosse uma virtude ser-se idiota coerentemente. A palavra idiota, etimologicamente, aplica-se neste contexto, pois provém do Grego e diz respeito àqueles que não zelam pelo interesse público. No que toca às finanças públicas a esquerda, incluindo o PS, e tal foi claro no governo Sócrates, é manifestamente idiota, ou seja, nunca zelou historicamente por qualquer equilíbrio nas contas públicas, navegando na demagogia barata lusitana, de transmitir a mensagem política de que, por eles, "davam tudo a todos", "haja vontade política", pois fazer contas é coisa para tecnocratas. Já a direita é hipócrita, como sempre foi, magnanimamente hipócrita. Diz que aprovou o tempo de serviço dos professores porque é justo, mas que tal não tem impacto orçamental. Devem estar esperançados, talvez considerando que os comunistas abominam o capital e o aforismo neoliberal de que "tempo é dinheiro", que seja possível contabilizar o "tempo perdido" com palavrinhas de conforto, palmadinhas nas costas, e quanto muito víveres, que o dinheiro é "a causa do mal", e a classe dos docentes preocupa-se apenas com metafísica e a educação transmitida aos discentes.

É nestes momentos, para analisarmos a obscenidade dos números, sendo que a mesma métrica se aplica para o saque que a banca fez ao Tesouro público, que é interessante usarmos a fiscalidade à moda antiga. Imaginemos um funcionário das finanças a ir casa de cada português uma vez por ano para pedir mais 40€ por cada membro da família, além da restante fiscalidade, para assim se poder recuperar o tempo de serviço dos professores. Uma família de 4 dá 160€ por ano, apenas para pagar este aumentos aos professores. 400 milhões de euros dá 40€ per capita. Todos os anos doravante, o que é diferente do caso da banca, que foi um empréstimo que em princípio tem retorno, e o valor em causa tem um tecto num período temporal. A despesa pública per capita é um conceito que defendo desde há muito no debate público, porque a partir de 1000 euros o comum dos mortais perde o fio à meada. Assim, vejamos que o resgate ao Novo Banco vai custar no total 400€ per capita. Mas os 400€ em princípio têm "v" de volta e estão limitados a esse montante. Os 40€ per capita para os professores são todos os anos pagos doravante, a acrescer ao seu salário, considerado desde já pela OCDE bem acima da média, em função da Paridade Poder de Compra da cada país. Haja racionalidade e literacia numérica no eleitorado, que a classe política pensa duas vezes antes de fazer promessas idiotas.

A Venezuela é o país do mundo com maior proteção laboral


No dia primeiro de Maio, Dia do Trabalhador e naturalmente dos seus direitos, achei interessante apresentar uma pequena provocação, coincidentemente no mesmo dia em que existem diversos tumultos nas ruas de Caracas contra o regime bolivariano vigente.

Numa análise alargada com todos os países da OCDE e mais alguns, a Venezuela aparece em primeiro lugar em dois dos três rankings, como o país cuja lei do trabalho apresenta maior proteção laboral para os seus trabalhadores. Aparece em primeiro lugar no ranking da proteção laboral para os trabalhadores com contrato sem termo, vulgo efetivos; aparece em primeiro lugar na proteção conferida aos trabalhadores com contratos temporários; e aparece em segundo lugar na proteção conferida aos trabalhadores contra o despedimento individual. Ou seja, a Venezuela é o país, neste estudo da OCDE, onde os trabalhadores de jure têm mais direitos. Mas há questões de jure e questões de facto!

E todavia, perante tamanha proteção laboral, a economia venezuelana definha há vários anos, a inflação é galopante e existe enorme agitação social contra o governo. O que demonstra que a verdadeira proteção laboral, a proteção de facto, não é a conferida pela lei nem por qualquer código do trabalho pois estes em última instância são apenas formais, mas a providenciada pelo desempenho económico. Haja desempenho económico e os trabalhadores têm emprego e bons rendimentos, como explanei noutra publicação.

Índice de proteção laboral. Fonte: OCDE.
Atenção todavia que não quero com isto dizer que haja propriamente uma correlação ou mesmo uma causalidade entre proteção laboral e desempenho económico medíocre, apesar de alguns estudos da OCDE apontarem nesse sentido, ou seja, que quanto maior a proteção laboral, menor o desempenho económico, havendo todavia literatura que aponta em sentido contrário. Repare-se na tabela acima que Alemanha, Bélgica, Holanda ou França também aparecem no topo da tabela e não são propriamente países subdesenvolvidos. Mas nestes países a proteção laboral é apenas uma consequência, e não uma causa, do elevado desempenho económico providenciado pela elevado valor acrescentado e tecnológico das suas economias. Isto é, não esperem que o desempenho económico aumente pelo simples facto de as leis laborais se tornarem muito mais protecionistas para a classe trabalhadora.

Numa reportagem de janeiro do corrente ano de 2019, o jornal Público relatava-nos como uma série de luso-venezuelanos encontraram uma série de trabalhos temporários em empresas relacionadas com a economia de partilha e economia digital. Um dos luso-venezuelanos entrevistados é apresentado como um estafeta de 35 anos, sendo o "número um" de uma aplicação de entregas para dispositivos móveis que surgiu em Barcelona em 2015 e depressa se expandiu, chegando a Lisboa em Outubro 2017 e ao Porto em Março de 2018. Diz o luso-venezuelano que “na churrasqueira [onde trabalhava anteriormente] ganhava um salário de 600 euros, aqui ganho 1800 ou 2000 euros". Imediatamente surgiram as críticas nas caixas de comentário do jornal e nas redes sociais, referindo que estes funcionários não passavam de precários escravos do capitalismo e da economia digital. Todavia calculo que estes funcionários prefiram mil vezes a precariedade capitalista, à proteção laboral conferida pelo código do trabalho venezuelano.

E assim se fez um Império!


Jordan Peterson refere que as mulheres heterossexuais muito inteligentes têm um problema, como são em menor número, e são naturalmente exigentes com a inteligência que procuram no parceiro, acabam muitas vezes sozinhas, e portanto, usando a psicanálise que Freud nos legou, amarguradas e neuróticas. Sem homem que, no seguimento primário da interpretação do Homo Sapiens, que as proteja ou consigo copule, transmitem essa neurose numa clara manifestação de diversas fobias, que vai desde claustrofobia até agorafobia, e claro, xenofobia. Todas as neuróticas tendem a ser xenófobas, à exceção daquelas que lidam com estrangeiros. O medo combate-se sempre com o conhecimento. Os ameríndios faziam sacrifícios humanos pois temiam que o Sol não nascesse no dia seguinte, temiam pois a eterna escuridão e ignoravam a astronomia. O melhor remédio contra a xenofobia é, portanto, conviver amical e puerilmente ou mesmo copular, de preferência passionalmente, com um estrangeiro, pois contra o medo que é primário, nada melhor que o sexo, sentimento também esse primário. As fobias também se manifestam amiúde nos gays e com aqueles homens com tendências homossexuais reprimidas, considerando que o homem efeminado tende a ser fisicamente mais fraco e débil, e por isso o medo é a reação primária mais evidente perante o estrangeiro que pode ser mais forte e agressivo. Mutatis mutandis para os idosos, o que explica que a população mais velha tenha votado em massa no Brexit, ou que Marine Le Pen tenha obtido mesmo muitos votos da comunidade gay, o que aparenta ser um paradoxo ideológico. O mesmo fenómeno de medo ocorre com os "homens musculados e guerreiros", mas desprovidos de uma elevada capacidade intelectual; neste caso, nos "guerreiros", a sua xenofobia não advém do medo pela sua integridade física, mas o medo que sentem pela integridade daqueles que amam, normalmente a mulher e a prole do guerreiro, fenómeno tão bem tipificado em todo o filme de propaganda militar americana, em que o herói militar, tem sempre uma bela mulher, e normalmente uma filha, incrementando assim a necessidade que o guerreiro tem em proteger a prole. Os sentimentos primários como o sexo, a camaradagem ou o riso entre diferentes raças, ajudam a vencer o sentimento primário e psicoevolutivo que é o medo. A evolução explica porque motivo temos medo de alturas, comum a todos os mamíferos e que remonta ao Mesozoico, de abelhas, de cobras e de, estrangeiros, isto é, alienígenas. Conviver ou copular com um ou uma alienígena combate esse medo, porque dá ao indivíduo a sensação psicoevolutiva de se envolver ou poder espalhar os seus genes por uma raça diferente da sua, sendo por isso uma vitória, ou pelo menos uma mescla, da sua raça em função das demais. Hernan Cortéz ao invadir o México e aniquilar os Astecas, tratou de copular com as locais, e na "Graça de Cristo", convertê-las e consigo casar. O mesmo fizeram os missionários portugueses no Brasil, dando origem à famosíssima posição sexual de missionário, pois os nativos copulavam como copulam as feras, enquanto os missionários, na Graça de Cristo e dotados de um espírito pedagógico de invejar a Júlio Machado Vaz, ensinavam as nativas "a fazer o amor", tal como ordenava a Santa Madre Igreja. Com a "Graça de Cristo" e proteção divina, sem qualquer sentimento xenófobo pois iam imbuídos de uma missão qual militar de elite sem medo, espalharam a fé e os genes europeus pelos ameríndios. Já os fracos, os enfermos, os efeminados, os velhos, as neuróticas e a putrefacta aristocracia ficavam na metrópole a implicar com os feitos dos outros e a protestar contra a invasão de negros que desembarcavam no Terreiro do Paço e ocupavam o Rossio. Porque motivo afinal Camões escolheu um velho (hoje diz-se idoso) e não um novo, para a crítica à aventura do multiculturalismo providenciada pelas Descobertas? E assim se fez um Império! Com a Graça de Cristo e sem qualquer receio de miscigenação! Mas a bem da integridade e honestidade intelectual, diga-se que certa direita beata, é muito mais islamofóbica do que propriamente xenófoba ou racista. Sede todos batizados, que caís todos na Graça de Cristo, independentemente da vossa tez de pele. Amén!

Dos mais fracos e da psicologia evolutiva


No artigo Da xenofobia e psicologia evolutiva, e da teoria dos conjuntos explico, à luz das ciências computacionais, porque motivo a xenofobia foi eficiente e positiva do ponto de vista cognitivo, para o Homo Sapiens, durante o paleolítico. Já na segunda parte do artigo Da imigração económica, da xenofobia e da psicologia evolutiva, explico porque motivo a imigração levanta tantos medos primários na turba. Já no artigo A origem e o anacronismo do medo explico porque motivo o medo, na maior parte dos casos, não só é anacrónico e inútil na sociedade pós-moderna e civilizada, como também é perigoso, pois conduz os países à guerra e à miséria. Todavia interessa também explicar porque motivo a turba também demonstra indignação perante os apoios dados aos mais fracos e menos capazes. Um caso interessante onde a psicologia evolutiva também ajuda a explicar a irracionalidade da turba, no que concerne à indignação, está no apoio que o estado social providencia aos mais fracos e vulneráveis. Na tribo paleolítica, que era essencialmente nómada, os fracos e vulneráveis eram simplesmente abatidos ou deixados para morrer.  Yuval Noah Harari, no seu livro Sapiens, capítulo 3, explica-nos que nas comunidades do grupo indígena Aché, do Paraguai, havia relatos de homens a executarem familiares mais velhos por estes serem débeis, e a executarem mesmo crianças que não cumprissem os requisitos aparentes de saúde e vigor. Não nos podemos esquecer que até ao advento da agricultura há dez mil anos com a revolução do Neolítico, o Homem era essencialmente nómada, por isso, a solidariedade era muito selectiva e apenas perante aqueles, da mesma etnia, em que havia uma hipótese clara de recuperação para que pudessem ser um ativo, caso contrário, se o indivíduo fosse um fardo para o avanço da tribo na procura por recursos, era abatido ou simplesmente deixado a morrer perante a fome ou predadores. Harari refere-nos que aplicar os nossos padrões morais à época em questão é completamente anacrónico, referindo mesmo que tais atitudes são congéneres, com a devida adaptação temporal, às práticas modernas do aborto ou da eutanásia, que muitos encaram como eticamente aceitáveis, pois visam, pelo menos de forma clara no primeiro caso, o bem estar da sociedade como um todo em detrimento da vida de um indivíduo a quem não reconhecemos a humanidade. 

Para as tribos nómadas sem quaisquer recursos médicos ou alimentares que não sejam aqueles providenciados pela natureza, indivíduos com pouco vigor ou debilitados, seriam um fardo que seria necessário descartar, sob pena de colocar em perigo todo o grupo. Interessante ainda notar, aponta o autor no capítulo 1, que há registos fósseis em que o Homem de Neandertal, muito provavelmente exterminado pelo Homo Sapiens, cuidava dos seus pares debilitados (há registos de fósseis de Neandertais com problemas precoces de locomoção e que sobreviveram até idade avançada). Todavia o Homo Sapiens, por ter um estilo mais nómada, era mais pragmático e agressivo; pois não só dispensava com facilidade os indivíduos débeis, como apresentava extrema agressividade perante membros de outras tribos, o que ajuda a explicar os fenómenos de xenofobia e os populismos a si associados. Foram esses os indivíduos selecionados, e por isso mesmo estamos hoje nós aqui, e não os Neandertais. Há que esclarecer todavia que o processo de agressividade e de total desprezo pelos débeis não surge perante decisões racionais, tal como quando um facínora ordena a execução de prisioneiros de guerra; mas através de processos evolutivos por seleção natural; isto é, perante a variabilidade genética providenciada por mutações genéticas ocorridas no ato da conceção, sobreviveram aqueles que apresentavam não só, maior desprezo por débeis, como maior agressividade perante alienígenas. A seleção natural escolhe os mais aptos e não os mais fortes, até porque não há evidências que os Neandertais fossem mais fracos fisicamente que os Sapiens. Foi por conseguinte uma clara vantagem evolutiva para o grupo, apresentar não só um desprezo por débeis (repare-se como o Sapiens civilizado faz um esforço cívico para demonstrar caridade perante pessoas com clara e manifesta deficiência mental, porque primariamente, "despreza-as"), como foi uma vantagem evolutiva demonstrar agressividade coletiva perante alienígenas, pois num mundo onde as tribos eram nómadas e se guerreavam, a coesão da tribo e a sua reação imediata eram fundamentais para a sua sobrevivência.

No ano de 2019, vejamos este exemplo provindo da República Portuguesa. O estado gasta anualmente com o Rendimento Social de Inserção, que visa apoiar os pobres dos mais pobres, cerca de 340 milhões de euros. Todavia o mesmo estado, no mesmo período, gasta com juros da dívida pública, que servem para alimentar os credores com quem a república se andou a endividar, cerca de 5 mil milhões de euros, cerca de 15 vezes mais. Falamos apensa de juros, ou seja, não falamos no pagamento do valor inicialmente creditado, mas apenas da parte dos juros. E todavia a turba, não só não se indigna com o valor que paga em juros, como se indigna profundamente com todas as notícias relacionadas com o rendimento social de inserção ou similares. Estes rendimentos não só servem para pagar a pessoas com muitas dificuldades financeiras e por isso, muitas vezes, débeis ou "inúteis" na aceção paleolítica do termo, como em acréscimo muitos desses indivíduos são de grupos minoritários, como, por exemplo, da etnia cigana. Temos então uma dupla aversão psicoevolutiva, o desprezo por "inúteis" e o repúdio por alienígenas. Os populistas não percebem nada de psicologia evolutiva, mas sabem, por experiência histórica, que estes temas instigam na turba, no seu sistema límbico, os sentimentos mais primários que lhes providenciam os respetivos dividendos eleitorais. Vejamos outro exemplo: a poluição do ar mata em Portugal, apontam as estimativas, cerca de 15 mil pessoas por ano. Repita-se: 15 mil mortes provocadas em Portugal pela inalação de partículas finas e outros poluentes, apenas em 2015. Junte-se-lhe os atropelamentos mortais e os sinistros rodoviários e temos uma cifra de cerca de 16 mil mortes anuais provocadas, em grande maioria, por automóveis. Isto sem considerar as mortes indiretas devido ao sedentarismo. Caso os muçulmanos matassem 1% desse valor, isto é, 160 portugueses por ano, haveria imediatamente um levantamento popular e a turba iria a correr votar nos fascistas; e que ninguém tenha dúvidas que tal ocorreria! O que demonstra de forma clarividente, como referi noutro artigo, que não há sentimento mais anacrónico e perigoso, no que concerne ao sentimento da turba, que o medo coletivo.