A polémica em torno da contagem do tempo de serviço para a classe dos professores trouxe para o debate no espaço público duas abordagens políticas sobejamente conhecidas e antagónicas: por um lado, a ira das redes sociais contra "essa classe de privilegiados", quando estranhamente a mesma ira não se aplicou contra o saque descarado que a banca fez ao erário público; por outro lado, temos os comentadores e comendadores de esquerda da nação, como o mui sapiente dr. Francisco Louçã, referindo-nos que o governo fez muito mal em colocar a população contra os professores, pois, segundo o professor universitário, estes seriam mal pagos. É natural e compreensível que a população queira inquirir, não numa lógica de guerrilha contra a classe docente mas numa lógica numérica e factual, quanto de facto auferem os professores, até porque os seus salários são obtidos do orçamento de estado, o mesmo orçamento que obtém receita através da fiscalidade aplicada a toda a população.
Assim, apresento-vos os dados comparados dos rendimentos dos professores em Portugal, para diferentes níveis de ensino e para diferentes níveis de experiência profissional, no quadro da União Europeia. Repare-se que os valores para os rendimentos são brutos, o que torna a análise mais pertinente, pois todos os cidadãos da Europa, para o país correspondente, pagam impostos sobre os rendimentos de forma igualitária para o mesmo nível de rendimentos, independentemente da natureza do empregador, seja funcionário de um estado ou de uma empresa privada; sendo que os valores são também apresentados em Paridade Poder de Compra, ou seja, já têm em consideração os níveis de vida e os salários médios em cada país, sendo que tal é também relevante pois são os cidadãos contribuintes, no caso do ensino público, que pagam os salários aos professores através da fiscalidade. Por conseguinte, a Paridade Poder de Compra permite fazer comparativos entre os salários dos professores e os demais trabalhadores do estado membro da União Europeia. Ademais este relatório, ao contrário de outros citados amiúde na imprensa como os da OCDE, é recente, pois faz referência ao biénio de 2016/2017.
Logo, apresenta-se no seguinte gráfico os salários anuais brutos em Paridade Poder de Compra, para diferentes escalões de professores a tempo inteiro, em diferentes países da União Europeia. A fonte é o Eurostat, mais precisamente a página 15 do Relatório Teachers' and School Heads' Salaries and Allowances in Europe. Os valores dizem respeito ao biénio de 2016/17.
Já os dados salariais do gráfico seguinte obedecem às mesmas premissas, mas dizem respeito apenas aos professores do nível secundário. Repare-se que os professores portugueses no topo da carreira do nível secundário aparecem com um salário anual bruto de 55524€ (este valor é em Paridade Poder de Compra, tendo como referência a média salarial europeia no ano de 2016), aparecendo em sétimo lugar numa lista com 40 estados.
Salários anuais brutos em Paridade Poder de Compra, para diferentes escalões de professores a tempo interior do nível secundário, em diferentes países da União Europeia. Fonte: Eurostat, Teachers' and School Heads' in Europe, 2016/17, página 15.
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