1) Parece-me evidente que, perante casos de violência policial em bairros problemáticos e que obtêm muita mediatização negativa no espaço público, quando a polícia for chamada no futuro para intervir nos referidos bairros, esta "terá um tempo de resposta muito acima do padronizado". O que a maioria dos comentadores olvida, é que são os próprios moradores do bairro a chamar a polícia para certo tipo de ocorrências. E se são recebidos à pedrada, e por conseguinte entram no bairro em enorme tensão (visto serem humanos, e não máquinas policiais), muito provavelmente no futuro, a polícia simplesmente deixará, perante o ódio e repúdio dos moradores, de entrar no bairro. E nesse dia, tal como fazem as tribos em África, e tal como o Bloco de Esquerda tanto defende nos seus acampamentos comunais, formar-se-ão tribunais populares e justiça deliberada por anciãos (porque qualquer comunidade, da mais primária à mais civilizada, por questões de sobrevivência, tem uma necessidade antropo-socio-evolutiva por justiça). E nesse tipo de justiça, não medram os direitos humanos.
2) Aqui na Holanda estes fenómenos também acontecem amiúde, visto que hoje em dia qualquer um tem uma câmara à mão, e não vale a pena os polícias, tal como acontece em Portugal, andarem a perseguir as pessoas que provavelmente filmaram o sucedido. A polícia tem, ela própria, que deter câmaras nos seus equipamentos, para que a polícia possa posteriormente fazer o contraditório. Aí teríamos visto as pedradas de que a polícia foi alvo (eu vi as imagens dos agentes ensanguentados) e teríamos visto in locco o que realmente se passou. Aqui na Holanda isso é feito, a polícia até tem um canal do YouTube onde publica as perseguições e as ocorrências, providenciando um contexto, e apresentando a sua versão dos factos, para que os mesmos não fiquem à mercê dos mídia e da vox populi.
3) A onda de indignação a propósito das declarações de um assessor do bloco de esquerda, faz parte da irracionalidade a que a vox populi já nos habituou. Mas indignemo-nos racionalmente, caso tal seja possível, considerando, pelo menos, que a indignação deve deter um certo grau de racionalidade numérica (para quem é ferrenho do Benfica, como o meu pai, é mais vexatório perder por 10-0 do que por 1-0, ou seja, os números contam). Estes fenómenos de segregação sucedem exatamente porque o estado, através dos seus diversos mecanismos de apoio social, não conseguiu providenciar a estas pessoas habitação condigna num bairro condigno. Os negros da elite angolana não padecem dos mesmos problemas dos residentes do bairro da Jamaica, o que deveria deixar a entender a qualquer um, que não é propriamente a cor da pele o factor principal que determina este tipo de comportamentos. Contudo considero, que em média, os indivíduos de raça negra têm traços fenotípicos e genéticos diferentes dos de raça branca. Mas realço veementemente todavia, que tais diferenças não incutem qualquer diferenciação moral ou qualitativa, mas apenas factual, tal como os portugueses, em média, têm traços genéticos e fenotípicos diferentes dos finlandeses ou dos marroquinos.
Mas indignemo-nos! O novo bairro social da Jamaica, com casas minimamente decentes, custará aos contribuintes no total cerca de 15 milhões de euros. Já o resgate público à Caixa Geral de Depósitos, cuja revelação da auditoria por fraudes e demais burlas ao erário público passou despercebida da ira da vox populi, custou-nos a todos, mais tusto menos tusto, cerca de 5,7 mil milhões de euros. Bem sei que o povinho não consegue com facilidade destrinçar um milhão de mil milhões, mas com o que o estado gastou nas falcatruas e "regabofe" da CGD, construía 380 bairros novinhos da Jamaica (mais fogo, menos fogo). Aliás, com o que o estado gastou nas falcatruas na CGD, cuja esquerda por questões ideológicas diferencia-as das do BES ou das do BPN, quando são falcatruas "do mesmo saco político-financeiro", daria para oferecer 20 vivendas de luxo a cada um dos residentes do bairro da Jamaica. E as ciências histórico-sociais dir-nos-iam que se estas pessoas vivessem num bairro condigno, não haveria necessidade, muito provavelmente, a todo esta ladainha de ostracismo e racismo, porque esses mesmos residentes teriam condições condignas.
Conclusão então para o povinho e para as redes ditas sociais: se vos indignais muito mais, quando o Benfica, Porto ou Sporting, o clube do vosso coração, perde por dez a zero em comparação quando perde por um a zero, é porque os números contam. E se os números contam para o termómetro da indignação, indignemo-nos então proporcionalmente; ou seja, 380 vezes mais do que nos indignámos com o caso Jamaica; contra a ladroagem, o confisco, a selvajaria e a pouca-vergonha que reinaram e reinam na banca.