Tenho muito respeito pelo trabalho e pelos direitos dos trabalhadores. Desprezo todavia profundamente todos aqueles que se fazem passar pelos seus arautos e defensores, sem que, tal como mencionaria Lenine, façam "a ponta de um corno". Qual afinal a diferença entre um rentista, um cambista, um agiota capitalista, um banqueiro e um deputado do PCP? Todos, através da parasitagem do proletariado, recebem rendimentos dos outros, sem propriamente produzir um alfinete. O debate parlamentar em Portugal é assim, escandalosamente medíocre e sofista, neste caso, a propósito da liberdade do trabalhador poder escolher como receber o seu salário ao longo do ano. A proposta do CDS apenas visava que o trabalhador ficasse com o direito, de receber caso este quisesse, os dois salários extras, distribuídos pelos restantes meses do ano. A esquerda demonstrou mais uma vez uma aversão visceral a qualquer tipo de liberalismo nas relações laborais, e entre defender o direito de escolha dos trabalhadores, e a previsibilidade de pagamentos salariais dos patrões, a esquerda defendeu os direitos do patronato. Porque a liberdade de escolha, em tudo o que não seja infanticídios, é um conceito o qual a esquerda guarda um enorme desprezo e repúdio. Um deputado do Bloco de Esquerda, a propósito do tema, referiu e bem, que as relações laborais são por natureza assimétricas, mas a sua probidade e capacidade intelectuais, estão ao nível do eucarionte que a deputada do PCP que o precedeu na intervenção, guarda no apelido.
Ora vejamos! A lei corrente obriga que a entidade patronal pague o subsídio de natal até dia 15 de dezembro, ou seja, no final do ano. Mas caso o trabalhador quisesse, poderia receber um duodécimo desse montante logo em janeiro, ou seja, doze meses antes. É certo que as taxas de juro dos depósitos não são consideráveis nos tempos correntes, e um duodécimo de um salário médio em Portugal, não é um valor considerável, mas em qualquer caso, o patrão fica a ganhar com a "luta" da esquerda pela defesa dos trabalhadores, porque ao ter que pagar apenas em dezembro um valor que poderia ser pago parcialmente em janeiro, retém o dinheiro dos subsídios. Ou seja, o montante financeiro dos dois salários extras será assim retido normalmente para o verão no caso do subsídio de férias, e para o último mês do ano, no caso do subsídio de natal, que em caso contrário seria pago parcialmente logo a partir de janeiro. Assim, esse dinheiro fica do lado da conta bancária da empresa. Por isso, ao contrário do que arrota a tal deputada do PCP, os patrões agradecem "a luta dos trabalhadores". Mas podemos fazer algumas contas. Se considerarmos um salário médio mensal líquido de 725 euros, que é aproximadamente a média salarial em Portugal a 14 meses, um duodécimo dá 60 euros. São 60 euros que o patrão retém e que paga apenas em dezembro, e não logo em janeiro. Se considerássemos por hipótese que o trabalhador colocasse esse extra diretamente numa conta poupança, com 2% de taxa de juro anual, ao fim de dez anos são 12 euros. Não é muito, mas diz respeito apenas aos juros do um único duodécimo de um único salário pago em janeiro, e não em dezembro.
Mas o que é em qualquer caso mais ultrajante, é o repúdio que a esquerdalhada tem a qualquer tipo de liberdade nas relações laborais, mesmo que não haja qualquer perda de rendimentos para o trabalhador, e a noção ultrajante e patriarcal que tem perante o trabalhador, estupidificando-o e infantilizando-o, como se o mesmo precisasse de orientação divina para saber defender os seus interesses, num caso onde, repita-se, não havia qualquer perda de direitos, nenhuns mesmo. Havia apenas a opção, de entre a situação corrente, o trabalhador poder escolher em acréscimo outra situação, em que de facto ganharia, pois como se referiu, o trabalhador passaria a auferir parte do subsídio de natal, que se paga apenas em dezembro, logo em janeiro. O debate parlamentar como não poderia deixar de ser é medíocre, paupérrimo, confrangedor, clubístico, sofista e acima de tudo, como se refere nos fóruns de Internet, totalmente off-topic, ou seja, descontextualizado do tema em causa. O presidente do parlamento, é por conseguinte um autêntico palhaço, que não põe ordem na casa, ou seja, ordem no debate parlamentar para que o mesmo se cinja ao tema em epígrafe. O CDS apresenta uma determinada proposta em concreto, por muito medíocres que sejam os seus dirigentes - e são-no - e todo o debate parlamentar, qual gaja que não se esquece dos males passados que o namorado lhe infligiu em tempos, situa-se nas alegadas maleitas que o CDS provocou nos trabalhadores durante o período da troika. Basta analisar a primeira intervenção da Rato, onde debateu tudo, berrou sobre tudo, menos o assunto em questão. E o idiota do CDS em vez de se focar no assunto em questão, baixou ao nível da Rato ao replicar o modelo parlamentar, ou seja, ao atacar o PCP, quando foi o CDS num governo do PSD quem mais deteriorou os direitos dos trabalhadores.
Como se diria em Francês, o parlamento parece um autêntico bordel tal o nível de debate parlamentar. Mais uns tempos e o nível intelectual dos seus debates, fica ao nível das "discussões" do facebook. Em vez de braços no ar nas votações, far-se-á com polegares. Mas pelo menos para esse antro e esterco cibernético californiano de "interação social", não contribuo com os meus impostos.
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