O jornal Público publicou um excelente retrato do nepotismo e da meritocracia em Portugal. O artigo expõe o evidente, ou seja, que quase sempre nestas matérias colidem as relações amicais e familiares (que são de salutar) com as competências profissionais. Não creio que em países como Portugal, Espanha ou Itália haja menos meritocracia por questões meramente de competências ou falta delas. Creio que a razão prende-se essencialmente pelo facto de culturalmente, nestes países, as relações pessoais serem mais próximas e mais calorosas, tornando mais difícil a separação dos domínios pessoal e empresarial.
Todavia, de acordo com Ludwig, consultor brasileiro - e bem sabemos também como funcionam estas matérias no Brasil - uma das razões principais para a "cunha" está na falta de transparência nos processos, de seleção e posteriormente de ação, do colaborador.
Jorge Nuno Pinto da Costa, conhecido por práticas de nepotismo, jamais colocaria o seu filho, caso este fosse coxo, como ponta-de-lança do Futebol Clube do Porto. Tal acontece porque existem cinquenta mil indivíduos a escrutinar o trabalho da equipa do clube, a cada partida. Se todavia, os adeptos e sócios dos clubes, apenas soubessem o resultado e posição da equipa, no final da temporada, e todas as partidas fossem à porta fechada e os resultados confidenciais, estou em crer que até pernetas existiriam a jogar na liga principal. A Administração Pública em Portugal é hermética, os cidadãos desinteressados e pouco exigentes, como consequência, o nepotismo é um fenómeno natural.
O blogue Má Despesa Pública, que faz uso frequente do portal Base criado pelo governo de José Sócrates, é um excelente exemplo de que a transparência nos processos, tornou a sociedade civil muito mais exigente e aumentou o escrutínio nos gastos dos organismos públicos, tornando-os mais eficientes e menos gastadores.
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