IC16 com custo de quatro mil e quinhentos euros por passo


Custo de 4500€ por passo; 6000€ por metro.
Imagem SIC/Lusa
Já tinha feito aqui as contas do custo da autoestrada transmontana ao passo (75 cm). Fi-lo pois considero que a maioria da população não tem a mínima noção dos valores astronómicos em causa, quando se trata de autoestradas e vias rápidas urbanas. Assim, creio que um passo normal de andante, cerca de 75 cm, é um valor o qual o cidadão comum consegue mais facilmente quantificar. Aliás, o próprio sistema de medidas imperial usado ainda hoje pelo Reino Unido, obedece um pouco a essa lógica, quando usa pés e polegadas, em vez de metros e centímetros.

Cada passo de caminhante do troço do IC16 recentemente inaugurado, custou aos contribuintes portugueses 4500€ (quatro mil e quinhentos euros). A aritmética é simples, considerando que o troço tem 700 metros e custou 4,2 milhões de euros. Ouvir as declarações do Sr. Ministro da Economia, António Pires de Lima, assim como do presidente da Estradas de Portugal, António Ramalho, é um exercício de arte oratória que se encontra essencialmente no domínio do surrealismo. Consideremos que Portugal não tem indústria automóvel própria, nem tem recursos energéticos endógenos de origem fóssil, consideremos que falamos de um país recém resgatado por credores internacionais, onde existem várias pessoas no limiar da pobreza, onde os salários e pensões são dos mais baixos da Europa, e que falamos de uma cidade que é das capitais europeias cuja área metropolitana tem maior número de vias rápidas e vias com perfil de autoestrada.

As declarações do presidente da Estradas Portugal foram uma obra de arte no domínio do surreal. Lembrou-me imediatamente a famosa cena, de um indivíduo desempregado e que recebe o Rendimento Social de Inserção, que entra num stand da Porsche, e que ouve boquiaberto e entusiasmado o comercial da empresa a debitar o rol infindável de qualidades técnicas e motoras de uma das viaturas que tem em mostra. Lembremo-nos que só em 2014, o Orçamento de Estado injetou na Estradas de Portugal 1,7 mil milhões de euros, cerca de 200€ por cada contribuinte.

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