Numa aldeia habitam três pessoas, o Mustafá, o Américo e o Zé do Mundo. O Mustafá tem no seu quintal um poço com água, que até ao momento tem-se revelado quase inesgotável. O Zé do Mundo, o Américo e o próprio Mustafá, precisam de água para beber e para as suas hortas, e como tal vão buscá-la ao quintal do Mustafá. Inicialmente o Zé do Mundo e o Américo obtinham água do Mustafá dando em troca aquilo que produziam, como por exemplo batatas ou cenouras, mas as coisas têm mudado. O Américo, além das batatas e cenouras que produz que têm um mau sabor, tem no seu quintal uma pedreira com milhões de calhaus sem qualquer valor, sendo embora o único lugar na aldeia onde existe aquele tipo de calhaus. Todavia, os calhaus não servem para nada, não têm qualquer propósito, não dão para aquecer as casas, não dão para extrair minerais ou produzir quaisquer tipo de produtos com utilidade, são simplesmente calhaus que o Américo tem na sua pedreira aos milhões. Mas como o Américo é preguiçoso e as suas cenouras e batatas já não têm qualidade; ele tem um plano para, usando os seus calhaus, obter as cenouras e as batatas do Zé do Mundo, assim como á agua do Mustafá, sem precisar de trabalhar.
Certo dia o Américo aproximou-se do Mustafá e disse: “Soube por fonte segura que o Zé do Mundo não te quer pagar mais pela água e está mesmo a pensar expulsar-te desta casa para ficar com o teu poço”. O Mustafá aflito responde: "Mas isso não pode ser, ele não tem direito a ficar com a água do meu poço". O Américo responde: "Posso ajudar-te a protegeres o teu poço, caso queiras". O Mustafá responde: "Sim, por favor, ajuda-me!". O Américo então refere: "Construí uma catana lá em casa, e testei-a com um pequeno leitão, tendo-se revelado extremamente eficaz. Garanto-te que com esta catana, jamais deixarei o Zé do Mundo roubar-te água do poço, mas terás de fazer um pacto comigo". "Claro" responde o Mustafá. O Américo então propõe: "Doravante, só aceitarás do Zé do Mundo quando ele quiser a tua água, os meus calhaus como objeto de troca, e como contrapartida garanto-te sempre proteger-te do Zé do Mundo com a minha catana, sempre que ele quiser roubar a tua água". "E o que faço com calhaus em vez de cenouras e batatas?" perguntou o Mustafá. "Não te preocupes, que eu dou-te todas as cenouras e batatas que precisas para sobreviver, as minhas e as do Zé do Mundo". "Estamos combinados" respondeu o Mustafá, aceitando a proposta.
E assim foi! Um dia, como muitos outros, o Zé do Mundo dirigiu-se ao Mustafá para buscar água para beber e para a sua horta, e queria dar a sua produção de cenouras e batatas à troca como de costume, mas o Mustafá recusou, dizendo que tal já não serviria e que só aceitaria calhaus, e não qualquer tipo de calhaus, mas apenas os calhaus que o Américo tem no seu quintal. “E o que farás tu com calhaus em vez de cenouras?” perguntou o Zé do Mundo. “Isso é lá comigo e com o Américo” e não tens nada a ver com isso. "E como posso obter esses calhaus?" pergunta o Zé do Mundo. "Terás que dar a tua produção de cenouras e batatas ao Américo e este por sua vez dá-te os calhaus que podes usar para obter água do meu poço".
O Zé do Mundo passou então a trabalhar do alvorecer ao anoitecer, e sempre que quer obter água para beber e para o cultivo da sua horta, tem de se dirigir ao Américo e entregar-lhe quase toda a sua produção de batatas e cenouras, restando apenas poucas para si. Por sua vez o Américo em troca, dá-lhe os seus calhaus que tem no quintal. O Zé do Mundo então pode usar esses calhaus para entregar ao Mustafá; e o Mustafá por sua vez dá-lhe água em troca dos calhaus. O Zé do Mundo trabalha arduamente, pois o que produz diariamente dá para poucos calhaus, e esses calhaus mal chegam para o seu consumo de água para um dia. O Mustafá e o Américo não trabalham e vivem os dois à custa do Zé do Mundo. O Américo distribuí uma pequena parcela das cenouras e das batatas ao Mustafá. O Américo com o tempo que tem, ainda aperfeiçoa e afia a sua catana, para que fique mais tenebrosa, ameaçando também o Mustafá que não pode quebrar o pacto que estabeleceu consigo. Quando as cenouras e as batatas que o Zé do Mundo produzem não satisfazem a gula do Américo, este ordena ao Mustafá que aumente o número de calhaus exigidos para cada balde de água, obrigando o Zé do Mundo a entregar mais cenouras e batatas ao Américo, para assim obter mais calhaus. Mas quantas mais cenouras e batatas o Zé do Mundo precisa de produzir, mais água também precisa de obter do Mustafá para a sua horta, obrigando-o a trabalhar ainda mais arduamente. Sempre que por sua vez o Américo quer mais cenouras ou mais batatas, tem apenas que ir à sua pedreira fortemente protegida com vedações altas, obter alguns calhaus, e depois dirigir-se ao Zé do Mundo para obter em troca dos calhaus, batatas e cenouras.
A vida na aldeia mantém-se pacata porque a catana do Américo pune com violência o Zé do Mundo ou o Mustafá, caso estes queiram mudar alguma coisa. Por sua vez nem o Américo nem o Mustafá trabalham, repartindo de forma não equitativa aquilo que Zé do Mundo produz. Um certo dia, quando o Zé do Mundo cavava a horta, encontrou por acaso no seu quintal, também um poço de água. Muito entusiasmado pela descoberta, e pueril e bondoso como é, foi imediatamente a correr a informar o Mustafá a agradecer-lhe bastante a água que lhe tem fornecido, mas referindo que a dele é melhor, pois tem mais qualidade e além disso é caseira, não necessitando assim de trabalhar tão arduamente para obter as batatas e as cenouras, produzindo apenas aquilo que necessitar para si. Quando o Mustafá informa o Américo da nova situação, este enraivecido decide agir. Durante a noite, enquanto o Zé do Mundo dormia, o Américo envenena-lhe o poço de água com cal e sal, e no dia seguinte o Zé do Mundo, ao provar a sua água com um sabor tão nefasto e ao ver que a água não servia para a sua horta, vê-se obrigado a recorrer novamente ao Mustafá para obter água. E assim o Zé do Mundo é único que trabalha. O Mustafá nada faz porque teve a sorte de ter um quintal com um poço, e o Américo passa o tempo que tem a desenvolver cal para envenenar novos poços que possam aparecer no quintal do Zé do Mundo, e também a afiar a sua catana, para assustar e punir quem queira mudar as coisas como estão.