Sobre a questão Ucraniana

Kommersant Photo/Kommersant via Getty Images
Os recentes acontecimentos na Ucrânia, com a recente decisão de Moscovo de invadir o território da Crimeia, demonstra-nos claramente que as relações internacionais no domínio da diplomacia e da legislação internacionais não mudaram muito desde os tempos dos romanos. Acima de tudo reina a hipocrisia, os sofismas dos comentadores políticos, as propagandas ardilosas, informações dúbias quer do lado ocidental, quer do lado da Rússia. Ora tenho tentado ver e ler os meios de comunicação social de ambas as partes, por um lado a vasta comunicação social ocidental, como a CNN, a France 24 ou a BBC, e do outro lado a Russia Today, uma televisão russa internacional que emite em língua inglesa.

Analisando os factos de forma racional e tentanto apurar a verdade de forma independente e livre, parece-me que Putin está a querer mostrar ao mundo o poder imperial e militar da Rússia, ranascido após a guerra fria. Já o Ocidente tem aqui um papel abominavelmente hipócrita e demagogo, como se o Ocidente fosse o único poder internacional que tivesse legitimidade para invadir os outros países a seu bel-prazer. Remete-nos para a velha questão da filosofia militar de que há armas boas e armas más, as nossas são as boas, as dos outros são as más.

Sejamos factuais. Putin é um ditador, no sentido estrito e romano do termo - oposição fraca, controlo da comunicação social, morte de jornalistas, perseguição de minorias, controlo do senado - mas parece-me que os russos têm bastante legitimidade no quadro internacional para o que estão a fazer. Lembremo-nos que a Rússia faz fronteira com o leste da Ucrânia, e estando a região instável afeta diretamente a Rússia. Consideremos ainda que há milhões de cidadãos russos e de etnia russa a habitar na Ucrânia e parece-me ser dever das forças armadas russas, no seguimento da sua constituição, defendê-los. Outro dado interessante é que por exemplo 75% da população da Crimeia, ou seja três quartos, é de etnia russa.  Mais, o partido de Ianukovich em 2012 ganhou as eleições democraticamente com 30% dos votos contra 25.5% de Julia Timochenko. Não podemos também esquecer que grande parte dos movimentos que estão nas ruas a protestar de forma violenta contra um governo democraticamente eleito, são de fações da extrema direita e neo-nazis. Façamos então esta pergunta à diplomacia ocidental que tanta vezes argumentou a favor da invasão de outros países em nome da Democracia: poderão os protestos violentos das ruas depor um sufrágio universal?

Podemos então referir, num enquadramento lógico, que estando a Ucrânica à beira de uma guerra civil, tendo o seu presidente democraticamente eleito sido deposto por um golpe de estado popular com traços de discriminação étnica e racial, ficando a população de etnia russa no país em perigo; e tendo esse presidente pedido apoio à Rússia para intervenção no território, parece-me, no quadro do que têm sido os pressupostos para todas as invasões militares levadas a cabo pelo Ocidente, que a Rússia tem bastante legitimidade no que está a fazer.

Não nego que Ianukovich não passe de um fantoche de Putin, mas poderíamos também dizer que Julia Timochenko não é mais que um fantoche do Ocidente. Pelo outro lado sabe-se muito bem que por exemplo os pressupostos que fizeram os americanos invadir o Iraque eram uma autêntica fraude. Nunca houve armas de destruição maciça no Iraque e hoje sabe-se que os EUA indaviram esta região do golfo pérsico apenas e tão-somente para obter os seus recursos energéticos. Estudos dizem que o petróleo teria um preço muito mais alto se os EUA não tivessem invadido o Iraque, pois as empresas americanas desde a invasão que sugam petróleo na região, a segunda maior reserva de petróleo a nível mundial. Porque invadiu a NATO a Líbia, sendo que Muammar al-Gaddafi apesar de tudo providenciava estabilidade a toda a região? Estando Osama bin Laden abatido, porque continua o império americano no Afeganistão? Porque invadiram os EUA o Vietname? Era um país longínquo, praticamente sem população americana para defender.

Não sou de todo simpatizante de Putin, pois é claramente um ditador eslavo dos tempos modernos, mas a demagogia e a hipocrisia do Ocidente, e muito em particular a dos EUA, deixa qualquer filósofo independente e pensador livre, a bradar aos céus do Olimpo, com tanta barbaridade e demagogia intelectual propalada pelos seus emissários internacionais.
 

Sem comentários:

Enviar um comentário