Vivifique a sua cidade, tome o pequeno almoço em Lisboa |
Lisboa transformou-se numa espécie de Marte por revolucionar (vede “Desafio Total” com Arnold Schwarzenegger), cujo ar é tão impróprio e tão nefasto, que os indivíduos necessitam de habitar e conviver apenas em espaços fechados, isolados do mundo exterior, este último extremamente perigoso e letal. E não é o ar rarefeito (que existe em Marte), que mata os munícipes lisboneses, é antes o ar poluído, pois dados do EuroStat referem que Portugal é o segundo país da UE onde há mais mortes por pneumonia, sabendo-se que os motores de combustão dos automóveis provocam graves maleitas para o sistema respiratório, pneumonia inclusive; não esquecendo ainda que Portugal (em que Lisboa não foge à regra, devendo até superar) tem a terceira maior taxa de motorização da UE.
Em “Desafio Total” era o ar exterior que matava os habitantes de Marte, assim como as diversas guerrilhas que defendiam a independência do planeta, para se livrarem da companhia de ar, que cobrava preços exorbitantes pelo m3 de oxigénio. Em Lisboa há outra guerra, mais sonora, sem balas, mais cibernética, mais bairrista, que é a guerra que luta contra a hegemonia automóvel na cidade, cujas consequência são a título de exemplo uma média de 2,2 atropelamentos por dia, com imensas fatalidades, incluindo crianças e idosos. Lisboa precisa de ser reconquistada, qual sacra Reconquista afonsina, qual grande cruzada papal, contra os infiéis das gasolineiras e da indústria automóvel, homens ímpios e iníquos que venderam esta polis aos interesses estrangeiros, Lisboa precisa de ser vivida, qual árvore que vive e sente o alvorecer da primavera, que é extremamente feliz no verão, que é soturno no outono e que se recolhe no inverno. Lisboa precisa de sentir as estações, de respirar ar puro, de ver os seus filhos por si penetrarem, percorrerem e vivificarem.
Todavia, hoje à data que escrevo, apesar de estar um excelente dia primaveril, os pagãos e os profanos pegam no seu popó e vão até ao Colombo, até ao Cascais Shopping (para ver a marginal, de carro claro está), vão até ao FreePort (aborto urbanístico e ambiental construído à custa de muita corrupção de um tipo que foi primeiro-ministro e que quem o ouve não o leva preso), e esquecem a cidade que os acolhe. O povo enfia-se nos covis do Eng.º Belmiro de Azevedo, compra o que não precisa com o cartão Barclaycard, e deixa a sua cidade ao abandono dos carros que estacionam em cima do passeio, das autoestradas citadinas que destroem o espírito bairrista, e da poluição atmosférica e sonora excessivas.
Vamos fazer renascer Lisboa, vamos vivificar Lisboa, vamos reocupar, conquistar, saltear Lisboa, ou porque não, algo mais simples e igualmente eficaz, vamos apenas juntarmo-nos e tomar o pequeno-almoço em Lisboa!