Para quando a gasolina a 20€ o litro?


A necessidade aguça o engenho, sempre o foi ao longo da história.

Não duvidem que se a gasolina custasse 20€ o litro era ver a populaça às resmas a andar de bicicleta e de transportes públicos pela cidade. Na política de transporte de bens deixavam-se os camiões TIR, esses cancros poluidores emissores de partículas nocivas para a sáude e transportavam-se mercadorias por comboio. Para quem realmente precisasse do carro, como taxistas e empresários para quem o carro é fundamental, usar-se-iam os veículos elétricos. Com o passar do tempo, os proxenetas da Galp, Repsol e BP e cartel da mesma mafia da OPEP, felizmente que faliam. Vade retro Satanás, cartel mafioso dos hidrocarbonetos.

Por seu lado se a gasolina custasse 20€ o litro, fechavam os Colombos e os Dolces Vitas, assim como os Loures Shoppings que pagam o salário mínimo a 90% dos funcionários, e as pessoas compravam localmente ajudando o senhor da mercearia da sua rua, incrementando o tão desejado comércio local. As pessoas passavam a andar a pé, e morria menos gente do coração e de AVC, que por sinal é a maior causa de morte em Portugal. Por seu lado ao se fazer exercício físico naturalmente, de forma moderada e contínua, a produtividade nacional aumentava e os custos do país com saúde diminuíam. Importávamos menos combustíveis e menos automóveis; enfim, custaria um pouco inicialmente, mas depois encontraríamos o paraíso e o crescimento económico sustentável.

Muitos pensadores imaginam a população como um conjunto de iluminados conscienciosos do mundo que os rodeia, e que de livre vontade adotarão a bicicleta porque se aperceberão dos malefícios do automóvel. Eu todavia, perdoem-me o maquiavelismo, penso que só quando tocarem na carteira do cidadão comum, é que os hábitos mudam, pelo menos em sociedades capitalistas, que é as que temos. Aliás, foi este mesmo raciocínio que se adotou na introdução das taxas moderadoras na saúde. Muitos utentes chegavam a usar as urgências dos hospitais para simples dores de cabeça; então o governo passou a cobrar 20 heróis cada urgência e a coisa “moderou”. Apesar de eu ser, no seguimento da gratuitidade consagrada na Constituição, contra qualquer taxa no Serviço Nacional de Sáude, concordo que as taxas moderadoras, por tocarem na carteira do utente, realmente moderam. Mas se a saúde é um bem fundamental e sacral no bem estar da população, já o não é de todo o automóvel.

Não vale a pena vir com lengalenga para a populaça dizer que o carro ocupa espaço na cidade, que polui imensamente, que faz um barulho imenso, que é um cancro para a saúde, para a economia nacional e para as cidades, pois o povão quer é "mobilidade". Eu pesava 96 quilos, não vivia sem o meu popó até que a minha mulher e a minha mãe me disseram: "o teu carro é a tua amante!". Quando vi que gastava mais com o meu Seat Ibiza todo tunning que gastava com uma hipotética amante, e que nem sequer usufruía dos eventuais prazeres hedónicos de uma qualquer relação extra conjugal, disse para mim mesmo: "não sustento mais chulos". Tinha um amigo dum amigo que ia todos os dias para o trabalho de bicla e disse-me que era possível. Depois então informei-me, adotei a bicicleta, vendi o cancro que tinha na garagem, e aí é que se fez luz na minha mente profana e qual neófito que acorda para a magia, passei a entender todas as grandes e claras vantagens de deixar o carro e andar de transportes públicos e de bicicleta. Foi só aí, depois de me juntar às listas de correio eletrónico e aos fórum de ciclistas urbanos, de ir à Massa Crítica de Lisboa, e de aprender com muitos dos que já andavam nestas andanças há anos, que me informei e consciencializei para uma série de índices e valores sociais, energéticos, económicos, ambientais e de saúde, que são continuadamente ostracizados pela comunicação social na sua generalidade.

Não há divulgação nos mídia (ou mesmo muito pouca) para as bicicletas. A população é bombardeada com publicidade a automóveis e a gasolineiras. Desde as festarolas dos prémios da Galp à magnífica publicidade: “Nissan Qashqai, uma nova cidade espera por si”! Como é que um aborto em forma de jipe que parece um autêntico tanque de guerra se intitula “citadino”? A Nissan só pode mesmo estar a gozar com o cidadão comum, numa cidade que tem graves problemas de espaço. O Continente publicita ferozmente que já dá esmolas ao cliente habitual para que este abasteça na Galp (se puser 15 litros na Galp dão-lhe 75 cêntimos no Continente) e o Benfica dá benesses aos seus sócios para porem gota na Repsol. Não há governante, desde o Primeiro-ministro ou o Sr. Silva, até ao autarca passando por toda a máquina dirigente do estado, que não tenha o seu popó à custa do pagode. Nem a austeridade deste governo veio mexer no status do carro. Esta coisa bimba de Portugal, que o carro é uma questão de estatuto, está-nos no sangue. Aliás é comum (e os psicólogos entendem isto melhor que eu) fazer associações latentes e indeléveis entre o carro e a pessoa: "ah e tal não sabes quem é o gajo? É aquele tipo careca que tem um BMW série 5!"

Perdoem-me mais uma vez o maquiavelismo mas concluo que a população só se "consciencializa" para esta problemática grave que assola o mundo moderno, quando lhe fizerem o saque à carteira. Até lá vão dizer que as bicicletas são para os blocoesquerditas, para os anarcas, para os freaks ou para os putos ricos que gostam de ser diferentes.

2 comentários:

  1. Gostei!
    Não houve radicalismo em excesso!
    Continuo a não concordar com a ideia de que em Portugal é pior ou diferente do resto do mundo!

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  2. Viva
    Para saber como seria um país com gasolina a 20€/litro basta ver o exemplo de Cuba: posições políticas à parte, é um laboratório vivo de uma mudança do paradigma de dependência extrema do petróleo para o oposto. Tudo se relocalizou, aumentou o número de escolas e universidades, a agricultura passou da grande escala à escala humana. As deslocações foram repensadas, mais bicicletas, mais burros, e manter os poucos automóveis, etc.,etc. Aconselho-te a ver o filme "how cuba survived the peak oil". http://www.powerofcommunity.org/cm/index.php
    Até à próxima MC.

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