Ai que fui com a mona ao charco...

Reich Barbosa reunira-se com os seus séquitos seguidores e arautos preguicentos do ACP, sócios homúnculos e néscios que sacralizam o automóvel acima de qualquer deidade cristã, e conspiraram com o intuito de me lixar. Barbosa e o seu cartel, são uma espécie de paganismo por cristianizar, pois os seus ideais da defesa do automóvel e da sua sacralização, tangem as doutrinas dos dissidentes hereges que deificavam o bezerro de oiro, aos quais o Todo-o-Poderoso através dos filhos de Levi, fez perecer com a sua magna força através do ferro das espadas (Êxodo 32). Barbosa, talvez também Catroga, os dirigentes do Correio da Manhã e da Cofina quiçá por causa do conteúdo magno deste vídeo, através da bruxaria mais malévola, de rituais satânicos, da magia negra, de cartomantes, de esoterismos maquiavélicos, e mesmo até com vudu haitiano, pois por certo têm a minha imagem corporal em pequenos artefactos artesanais, conspiraram contra a minha integridade pessoal.

Reuniram-se em covis secretos algures nas profundezas do número 24 da rua Rosa Araújo, e entoaram cânticos satânicos e ritualistas, com magia negra, por forma a me incutirem as maleitas mais graves. Reich Führer Barbosa, usando do seu misticismo e das suas capacidades paranormais, tal como o fizeram os crentes da doutrina mística nazi, reunira-se com os seus fanáticos seguidores, e com o símbolo maior do sacro popó, deus maior na religiosidade barbosiana, uma espécie de Zeus na mitologia grega, ou Juno ou mesmo Júpiter na mitologia romana, o carro, o deus dos deuses para os pagãos do ACP, que no século XXI praticam uma espécie de Cultus deorum romanorum. Durante o ritual báquico, onde o diesel e a gasolina deverão substituir o vinho, os fanáticos fundamentalistas deste neo-Alá chamado automóvel, berram dentro do templo quais suídeos à beira da matança e evocam todas as suas deidades heréticas, idólatras e sacrílegas que destroem a qualidade de vida nas cidades.

Pois lá ia eu, a subir a rua da prata em Lisboa na minha bina, e cumprindo rigorosamente esse Códex da Rodovia, ia encostado à direita para não prejudicar o trânsito. E toda aquela energia paranormal negra, proveniente do covil da rua Rosa Araújo, entrava no meu cérebro através dos campos magnéticos mais inefáveis e invisíveis que se propagavam pelo ar até á minha pessoa em movimento com a minha bina. Lá subia eu a rua da Prata, em oposição de sentidos à rua do Oiro, e atravessava todos aqueles cruzamentos para peões e automóveis. O carril do elétrico estava mesmo ali em baixo ao meu lado esquerdo, acompanhando-me neste trilho da vida, neste trilho da rua argêntica, e lá seguia eu, calmamente sem importunar ninguém, sem elevar o meu ativismo pró-mobilidade ativa, ou favorável aos velocípedes, seguia simplesmente “na minha”. Mas os barbosistas, que nunca param de conspirar contra quem lhes faz frente nesta hegemonia automóvel, que é um cancro para a cidade, para o país, para o planeta, para a saúde e para as pessoas, continuavam as suas preces satânicas, para que algo de mal me acontecesse.

E então, já ia eu a mais de metade da rua, e seguia na minha, e os carros passavam por mim a abrir (qual é a velocidade máxima nas cidades, dizei-me por favor?). Pergunta: qual das artérias em Lisboa que não tem como velocidade média dos seus veículos, uma velocidade superior aos 50 km/h? Seguia na boa, na minha, como quem não quer chatear ninguém, nem importunar ninguém, mesmo que os veículos automóveis me fizessem das razias mais efusivas, principalmente taxistas, pois para estes, os ciclistas não passam de meros empecilhos do trânsito que deveriam estar proibidos de circular na estrada. Seguia eu e já ia a três quartos da rua, mas Barbosa e a sua seita, o seu bando profano que ora em homenagem ao deus popó, continuava a berrar aos deuses mais ancestrais do automóvel, para que estes os auxiliassem a me destronar e a me purgar dos meus intuitos anti-acpenianos. Esse coio de malevolentes ritualistas que invadem as cidades com barulho ensurdecedor e poluição, à custa dos seus enlatados importados de quatro rodas, continuava a pregar para que eu me lixasse algures por uma dessas artérias da cidade.

Carril no final da Rua da Prata, onde fui ao charco
asfalato abateu, e criou-se um fosso perigoso

E assim foi. Barbosa lá orou tanto aos seus deuses do olimpo automobilista, que eu já ia mesmo no final da rua da prata, já mesmo junto à praça da Figueira - onde está imponente e a cavalo o nosso primogénito de Avis com o meu nome, filho de um invertido (dizem as más línguas históricas) e de uma plebeia de Lisboa com nome Teresa - e no final da rua, quando tento guinar para a esquerda com a roda dianteira, a roda bate na lateral direita do carril direito do elétrico, que se encontrava elevado face à cota do solo, pois este abateu com o peso dos carros (malditos carros) e lá vou eu em queda livre para o chão, batendo violentamente com a tola (mais precisamente a zona frontal esquerda do crânio) num paralelepípedo que estava no asfalto. Desmaio e fico inconsciente no meio da estrada tendo perdido os sentidos por alguns minutos. Lá acordo para a vida qual neófito e ainda estatelado no chão oiço uma primeira frase em língua inglesa com sotaque não britânico: "are you alright?", Muito lentamente lá digo: "acho que sim!". O estrangeiro que ali passava, mais outro lisboeta ajudam-me a levantar e lá me levanto e caminho lentamente para junto a uma parede da praça da Figueira, com a bicicleta. O que sucede, é que julgaram todos que estava bem e lá foram às suas vidas, todavia, começo a ver tudo completamente turvo, sento-me no chão, e lá se apagou a luz novamente por alguns minutos. Desta vez, foi a muita zelosa e prestável senhora dos gelados da praça da Figueira, que pegando numa garrafa gelada de água do Luso (viva a Lusitânia!) me atira água para cima da face. Lá acordo novamente para a vida, qual neófito do oriente lusitano, e desta vez vejo toda uma série de populares á minha volta a tentarem ajudar-me (apenas um aparte, eram peões, pois os automobilistas nem se deram ao trabalho de parar). Continuo a ver tudo completamente turvo, e só vejo gente à minha volta. Há um rapaz moreno que me traz água com açúcar e outra senhora da Confeitaria Nacional chama o 112. Quero aqui agradecer-te veementemente rapaz moreno, quem quer que sejas, falavas português fluente sem sotaque, mas tinhas tez de magrebino, quero veementemente agradecer-te quem quer que sejas, o mesmo agradecimento vai para o pessoal da Confeitaria Nacional e para a senhora muito prestável dos gelados.

Relatório médico do meu acidente

Lá vêm os paramédicos do INEM, enfiam-me para dentro da ambulância (que não é zero-emissões, porra!) e levam-me para São José. A paramédica, de nome Cláudia, pois mesmo completamente zonzo dei-me ao trabalho de lhe perguntar o nome, tinha nascido no mesmo dia, do mesmo mês e do mesmo ano que eu. Entro nas urgências de São José, vou à triagem, metem-me em cima de uma maca, colocam-me uma fita amarela e dizem que "agora é só esperar". Bem posso-vos adiantar que estive cinco horas em cima de uma maca desde que entrei até sair do hospital. Primeiro levaram-me para uma sala tenebrosa, onde estavam alinhadas toda uma série de macas, com gente idosa com as mais diversas patologias, a senhora que estava ao meu lado esquerdo tinha uma cara cadavérica e deveria ter 90 anos, a que estava ao lado direito tinha também caído com a mona no chão e tinha um olho para cada lado, tendo também uma ferida grave na zona frontal esquerda do crânio. Bem, mais vale fechar os olhos e dormir penso eu, todavia acordava bruscamente, pois ao que parece a arrumação das macas naquela sala não estava bem definida, e sempre que era preciso espaço para alguém passar ou que entrava mais um enfermo, lá movimentavam a maca uns metros para qualquer umas das direções que fosse mais conveniente, e lá eu acordava novamente.

Lá oiço bem ao fundo e de forma quase inaudível, o meu nome: "João Filipe Ferreira, gabinete cinco". E não vejo ninguém a vir buscar-me ou na minha direção. Então começo aos berros: "chamaram-me, chamaram-me Dr.!" E um médico bem novo mas muito prestável, lá vai chamar o colega do gabinete cinco e lá vem então um médico novo, muito simpático, com uma bata completamente verde, perguntar-me: "então João, diga-me lá o que se passou". Eu muito atordoado lá retorqui: "Bem Dr., ia na bicicleta, escorreguei no carril do elétrico e caí com a cabeça no chão". E perguntou-me ainda: "Levava capacete?" e eu respondi: "Não é obrigatório por lei". - "Sente dores?". - "Dores muito fortes na perna esquerda e na cabeça". -"Muito bem, vai fazer uma TAC e será reencaminhado para neurologia".

Bem, mais três horas à espera em salas tenebrosas repletas de doentes, com enfermos a gemer por todos os lados, com as macas todas encostadas e alinhadas lado a lado tipo hospital de campanha, e lá adormeço eu novamente para olvidar aquele cenário. Lá vem uma bela e voluptuosa enfermeira, evocando aquele mito quase freudiano e da cinematografia menos propícia para menores, do macho enfermo adormecido que é auxiliado por uma libidinosa princesa de bata branca das ordens hospitaleiras, e ela muito zelosa pergunta-me: "está bem João?" e eu respondo: "preciso mesmo de urinar!". Traz-me um recipiente em cartão próprio, lá fecha umas cortinas à minha volta e faço chichi de lado na maca para um pequeno repositório, ai que alivio que foi aquela sensação expurgadora. Espero mais umas horas, lá vem um auxiliar médico muito dinâmico mas pouco dado às sensibilidades mais requintadas do tato, e pega bruscamente na minha maca e diz: "vai fazer o TAC!". Apeteceu-me fazer um pequeno reparo no que concerne ao género do acrónimo, mas o bom senso ditou que não valia a pena. E lá vou eu num autêntico carrossel pelo hospital, por aqueles corredores tenebrosos, onde sendo o chão em laje de pedra, está este completamente irregular, sendo que a minha maca parecia ondular qual montanha russa daquelas com mais adrenalina. Chego à sala dos exames, faço a TAC, e vejo toda aquela maquinaria sofisticada e deveras dispendiosa para os contribuintes lusos, rodar á minha volta em movimentos periódicos e circulares. Limitei-me a obedecer dedicadamente às ordens da técnica de serviço: "não se mexa!"

Mais duas horas à espera em salas tenebrosas com enfermos a gemer, e plebeus idosos com caras cadavéricas, e sempre que olhava para o teto só via canalizações arcaicas, e estruturas velhas a precisar de remodelação. Lá vem o médico neurologista, um indivíduo muito novo mas extremamente simpático e acessível e informa-me: "João, você teve um traumatismo cranioencefálico minor, mas não apresenta sequelas nem fraturas, por isso não se preocupe que em princípio está tudo bem". Fez-me testes aos olhos com a lanterna com o intuito de me observar as pupilas, testou-me o movimento dos quatro membros, e ainda pediu-me que lhe apertasse as mãos com força para se aperceber se haveria desequilíbrio motor. Estava tudo bem felizmente. Deu-me alta e vim para casa. No fim soube que este médico neurologista extremamente prestável, também andava de bicicleta frequentemente. Por fim toda a gente me recomendou: "da próxima vez use capacete, pois podia ser pior." Saí cerca das onze e meia e havia entrado perto das seis e meia, ora cinco horas em cima de uma maca pois então.

Como utilizador do SNS, tenho apenas a dizer aos intervenientes: o pessoal que trabalha no SNS é impecável, e a maioria é super prestável e simpático e faz um trabalho magnífico, todavia as instalações de são José são tão decrépitas, que não se coadunam com um país de primeiro mundo. Percebo no entanto, as questões de sustentabilidade do sistema evocadas pelo ministério, pois eu quero que haja SNS durante muitos mais anos. Paguei 30 e tal euros por tudo (20€ da urgência mais a TAC), não é caro se compararmos com o que pagaria nos states por exemplo, ou num hospital privado, sendo que no público não tenho a mínima dúvida que o pessoal é mais qualificado e os equipamentos são superiores, as instalações todavia...

Como ciclista, não quero mais saber de todos os tratados e trabalhos académicos que por aí existem sobre o usar ou não usar capacete, pois doravante só usarei capacete. Ia mesmo muito devagar, e mesmo assim embati com a tola violentamente no chão, e para minha sorte não foi pior, se tivesse capacete teria evitado todos estes imbróglios médicos. Segundo, os carris do elétrico são mesmo uma treta, e para mais quando o asfalto abate e se cria um fosso entre o carril e o asfalto, ficando um autêntico perigo para os ciclistas.

Reich Führer Barbosa: os teus 250 mil séquitos, lixaram-me por um dia.

Anónimos energúmenos que por aqui comentam: lamento informar-vos, mas tenho os cornos rijos!