Recebi recentemente na minha caixa postal eletrónica uma oferta de emprego, de uma empresa de recursos humanos para a qual trabalhei em tempos no aeroporto de Lisboa, da qual não tenho quaisquer razões de queixa, devido ao seu elevado profissionalismo e à sua honestidade. No entanto recebi hoje mesmo esta indecente e herética proposta de emprego:
_____Promotor Comercial Banca
Local:
Lisboa (Centro e Cascais)
Categoria:
Promotor Comercial da Banca (Stands)
Empresa:
Adecco Recursos Humanos, selecciona para empresa sua cliente na área da Banca, Promotor Comercial da Banca (Stands):
Requisitos:
Os Candidatos deverão reunir os seguintes requisitos:
- Escolaridade Mínima: 12º Ano;
- Conhecimentos de Inglês
- Excelente apresentação;
- Bom poder de comunicação;
- Bom poder de negociação e argumentação;
- Capacidade de análise;
- Postura pró-activa e dinâmica;
- Disponibilidade imediata.
Este Profissional terá como principais responsabilidades:
- Promoção e venda de Produtos Bancários e divulgação de Cartões de Crédito.
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Eu respondi diretamente à técnica de recursos humanos, referindo que preferia trabalhar num bordel, como porteiro, ou como massagista numa dessas casas menos próprias, do que ir impingir cartões de crédito à população. Sim meus caros, falo-vos dos Barclays Card e dos City Bank. Portugal é regido pelos credores, os portugueses estão afogados em dívidas, desde a dívida da casa até à dívida do carro, que ainda vão tendo taxas de juro aceitáveis, e estas financeiras, ainda querem que eu vá impingir cartões de crédito aos incautos, com taxas de juro completamente agiotas. Disse frontalmente à gestora dos recursos humanos, que ganhar dinheiro a levar no cu, ser carteirista no metro de Lisboa, ser arrumador de carros no Colombo ou mesmo pedir à porta de uma igreja aos domingos de manhã, são tudo formas mais dignas e honradas de ganhar a vida, do que andar e ludibriar os inocentes e os incautos com créditos usurários.
A troica é quem manda por cá, a dívida do país é patológica, os portugueses estão afogados em empréstimos que não conseguem pagar, desde a compra da varinha mágica a prestações, até ao carro que nos dá o falso conforto e comodismo, e ainda ousam fazer-me propostas indecentes, para que eu ande a gastar o meu latim e a minha retórica enfiando no ânus dos desprotegidos dinheiro fácil, que depois teria de ser pago com juros bem altos. Se ainda fosse dinheiro usado para investimentos produtivos, como formar uma empresa, abrir um pequeno negócio, que é salutar e de louvar, mas não; este tipo de cartões de crédito visa tão-somente o consumo, ou seja queimar dinheiro em frivolidades importadas que o país não produz, e deixar o cliente completamente afogado em dívidas.
Sois cristão? Se não sois, ficai sabendo que eu sou, e rejo-me pela Bíblia. Ora então atentai a estas passagens do Livro Sagrado:
E entrou Jesus no templo de Deus, e expulsou todos os que vendiam e compravam no templo, e derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas; Mateus 21:12
Quando Jesus entra em Jerusalém e se dirige ao templo, depara-se com uma espécie de agentes do city bank do seu tempo. O templo de Jerusalém, tinha uma moeda própria, pois a moeda do imperador romano, que circulava fora do templo era considerada idolatra e profana pois tinha o rosto do regente romano. Dentro do templo, havia uma moeda própria, ou seja, sagrada para os hebreus. O que os cambistas faziam, era exatamente, trocar moeda profana, por moeda sagrada, para que os fieis pudessem comprar os animais para os sacrifícios e comprar também os objetos de culto. Ora, assim como hoje os bancos praticam taxas de câmbio diferentes entre as mesmas moedas, consoante o sentido em que se faz a conversão, de forma a que fiquem sempre a ganhar com as transações, também naquele tempo os cambistas ganham exatamente no câmbio entre a moeda sagrada e a moeda idolatra, e vice-versa. Jesus, enfurecido com esta prática cambial, que deixava sempre os crentes a perder, assim como talvez também enfurecido com o negócio que se gerava com o sagrado, tal como hoje acontece com as prendas do Natal ou com os santos que se vendem nos arredores do santuário de Fátima, derrubou todas as tendas dos cambistas e dos que vendiam animais para os sacrifícios.
E vieram a Jerusalém; e Jesus, entrando no templo, começou a expulsar os que vendiam e compravam no templo; e derrubou as mesas dos cambiadores e as cadeiras dos que vendiam pombas. Marcos 11:15
Neste seguimento lógico e filosófico, se Jesus regressasse à Terra e viesse até Portugal, e me visse a mim, seu devoto, cristão crente, numa banca do city bank ou do barclays card a impingir cartões de crédito aos incautos e aos pobres desgraçados que estão enterrados em dívidas, convencendo-lhes que ao adquirirem este cartão com taxas de juro de mais de 20%, iriam resolver os seus problemas; Jesus ao ver-me engravatado, com discursos falaciosos e ardilosos, não faria mais nada a não ser derribar a banca onde eu trabalhasse, seja ela no centro Vasco da Gama ou no Colombo.
Faço um apelo: Se sois bom cristão, derribai também vós as bancas dos agiotas que impingem cartões de crédito com taxas de juro usurárias aos incautos. Se o fizerdes, só podeis ser bom cristão e bom devoto do Senhor. E o que mais me deixa exacerbado, é ver pessoas que se dizem católicas devotas que se confessam na missa, serem mais avarentas e somíticas, que qualquer cambiador do templo. Assim como se fordes bom cidadão deveis ignorar por completo o que dizem certos políticos e comentadores medíocres e vos deveis cingir pela Constituição da República em primeiro lugar; se fordes bom cristão, devereis ignorar o que dizem certos pseudo-católicos e deveis-vos cingir unicamente pelo que esté escrito nos Livros.
E ser bom cristão e vender cartões de crédito em bancas de centro comercial, é um paradoxo teológico crasso.
Espero que não se incomode com a partilha de m ou outro texto no Facebook. Adorei, e também moro na Freguesia de Marvila. Trabalho no Parque das nações e nasci na Beira Alta.
ResponderEliminarAbraços e parabéns
Dolores Marques