Ordem dos Engenheiros - 4.ª Conferência-debate: Eficiência e Economia de Energia

Estive hoje mesmo, dia 16 de Fevereiro de 2012, na sede da Ordem dos Engenheiros, região sul, num debate sobre Eficiência e Economia de Energia e o panorama do mesmo não poderia ter sido tão mau e tão entediante.

Para não variar no que concerne às grandes questões basilares da energia do país, foram buscar os suspeitos do costume para oradores principais, aqueles que lucram com o estado de dependência energética do país e que nos deixaram na miséria presente. O tema era a eficiência energética e vejam bem quem era o convidado principal: o CEO da Galp. Portugal que tem uma dependência energética de 83%, ou seja 83% da energia que consumimos como país, é importada (sendo que a Galp tem um peso brutal nesta conta); um país que gasta cerca de 41% da sua energia no sector dos transportes, onde se fez pouco para melhorar a eficiência energética, e a Ordem dos Engenheiros, foi chamar para orador principal o representante máximo de uma das empresas que é das grandes contribuidoras para o nosso estado calamitoso no que concerne à eficiência e dependência energéticas.

Foi belo e poético ver o Eng.º Manuel Ferreira de Oliveira, CEO da Galp, falar pouco de eficiência energética, mas fazer uma propaganda acérrima à Galp, como esta dá bolsas de estudo a estudantes para parcerias com empresas e universidades, e de como promoveu num hotel de cinco estrelas a eficiência energética. Ainda ficámos a saber que o Eng.º em apreço, palavras suas, conduz "um bom BMW que consome muito mas é a gasóleo", e que a gasolina deveria pagar menos ISP. A Galp, segundo o mesmo, também apostou nos híbridos, e criticou ainda subliminarmente a energia fotovoltaica. Falou de uma forma quase poética dos hidrocarbonetos e do petróleo, "uma energia solar que o planeta Terra acumulou há 60 milhões de anos que nos providencia conforto e que durará por muitos mais anos". Depois falou um assessor de um gabinete da secretaria de estado dos transportes, o Eng.º Filipe Vasconcelos, que nada mais fez que propalar decretos-leis, com siglas impercetíveis para o comum dos mortais.

Mobilidade suave, zero; melhor planeamento urbanístico, zero; melhoria da rede de transportes públicos, zero; incremento da ferrovia em detrimento da rodovia, zero; carro elétrico, zero; falou-se um pouco de eficiência energética dos edifícios e de relevante pouco mais. Foi essencialmente uma sessão promocional da Galp, e dos projetos-leis impercetíveis do governo. Por fim como comentadores falou o Eng.º João de Nascimento Batista da Elecpor que colocou algumas questões pertinentes, mas muito delicadas e politicamente corretas, ao CEO da Galp, que nem sequer foram diretamente respondidas, e por fim, no meu entender quem trouxe alguma mais-valia ao debate foi o Eng.º Carlos Nascimento da OE que nos deu alguns dados interessantes sobre a evolução do PIB em paralelo com a evolução do consumo energético do país, como suposto índice da macro eficiência energética.

Na generalidade fiquei escandalizado para a insensibilidade destes altos quadros e pessoal qualificado, para questões muito mais basilares e estruturais da nossa dependência energética num país que consome cerca de 41% da sua energia em transportes e que tem uma dependência energética de 83%. Isto, foi matéria tabu. Houveram ainda críticas às políticas de Bruxelas pois segundo os oradores, as mesmas estão cegamente vinculadas às questões ambientais, o que afeta a economia. Enfim, foi um debate paupérrimo, muito triste, com o representante máximo do cartel do petróleo a promover a sua empresa.

Refiro ainda que dos cerca de 150 presentes eu fui o único que fui de bicicleta. Não é isto verdadeira eficiência energética nos transportes?

Consumo final total de energia por sector em Portugal

Consumo final total de energia por combustível, em Portugal

Fonte dos dados: Portal energético Europeu

2 comentários:

  1. Também estive nesse "magnifico" evento. E concordo interiramente com a sua interpretação do que lá aconteceu. Mas chamo a atenção que se o Sr. foi de bicicleta eu fui de transportes publicos. Porque a habilidade para andar de biocicleta no meio da cidade não é de todos mas a de utilizar trsnportes publicos devia ser.

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  2. Caro comentador. Concordo inteiramente consigo. A habilidade ou a capacidade para andar de transportes públicos deveria ser de todos, mas tal tema, também, infelizmente, não foi abordado na sessão em apreço.
    Cumprimentos

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