A Europa, essa bela dama deitada
apoiada sobre os Urais
ao novo mundo acorrentada,
o seu ventre é a Alemanha
a França e a Espanha
são os seus seios sacrais
Um antebraço é a Grã-Bretanha
sendo o punho a Irlanda,
a Ibéria é quem comanda
esta nau continental
cuja nobre façanha
é tão-somente
cumprir Portugal
A Itália é um membro superior
A axila é o Adriático
E lá ao fundo para lá da dor
está a Rússia no amor freático
Uma nádega está nos Alpes
a outra nos Pirenéus,
as duas, que as apalpes
para descortinares os véus
que farão com que a Sua volúpia
te eleve aos céus!
A Polónia é uma filha voluptuosa
A Lituânia é uma perna carnuda
Malta é só uma miúda
irreverente a airosa
O leito da luxúria é o Mediterrâneo
África é a sua amante
viçosa e escaldante
e o Nilo é o canal
vaginal
do prazer momentâneo
O Bótnia é uma lágrima
Os Balcãs são uma anca
A outra é a Escandinávia
uma dança, a outra manca
A Hungria e a Eslováquia
são o sangue que a percorre
A Áustria é a libido
que através do Danúbio
do seu corpo escorre
O Tamisa e o Sena são as veias
O Reno e o Meno, as artérias
Na Bielorrússia calça as meias,
na Córsega e na Sardenha
inspirada pela Alemanha
revê as nobres matérias
e usando a pena,
na Grécia onde escreve,
chama-se Helena!
Na Ucrânia abre-se a Eros
percorrendo a Floresta Negra
dá uivantes gritos sinceros
pois dá prazer a quem lhe pega
é um erecto dedo errante
vindo da vontade trespassante
da curvatura continental.
Esse amante
é Portugal.
A Holanda é uma virilha tenebrosa
A Dinamarca é o seu falo
A Finlândia é uma mama airosa
e a Suécia é um regalo
O umbigo é o Luxemburgo
tríptico linguístico de uma fonte tão tesuda
A fonte de tesão
é Amesterdão
A Roménia é o coração
que pelos ímpios se apaixona
A Bulgária é a esquerda mão
que em Cirílico escreve
todos os tratados
de Roma
A Europa é uma musa adormecida
É uma deusa continental
No calcanhar pelos arautos do tio Sam,
ferida
vingar-se-á por Portugal
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