Os livros que compro não os leio
Os que escrevo, não os vendo
Há poucos livros que pretendo
ler: não constam do meu recheio
Nunca li um livro inteiro,
nem um que fosse estupendo,
nem nunca me arrependo
de deixar um livro a meio
Descartes nada sabia,
eu só sei que nunca li
os sonetos da Poesia
que ontem não redigi
Só me peço: um por dia
E em três anos, mil escrevi
__
Cada livro é uma mulher
e como polígamo não sou
leio apenas quem me amou
livro-me de quem não me quer
Leio o livro que me aprouver
pois livre sou, foi o livro quem libertou
o homem que se acorrentou
ao livro augusto que está por escrever
Um livro é um processo
Neófito é quem o lê
É um caminho sem regresso
Baptiza quem nele não crê
e no Saber será submerso
é um ícone sacral da Fé
__
Leio a Bíblia e o Corão
Os lusíadas e Fausto
Nunca fico exausto
com o evangelho de João
Escrevo com a destra mão
ao negar o holocausto
A liberdade é o meu hausto
Sou canhoto no coração
De Voltaire, leio o seu Cândido
de Dante, a Comédia
leio todo o livro lânguido
com luxúria e com tragédia
Da Poiesis estou imbuído
Sou a Magna Enciclopédia
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