A RTP1 e o Serviço Público – Carta pública ao provedor da RTP


Perguntava-lhe caro provedor da RTP, após pagar mais 2,25€ de taxa de audiovisual este mês, qual a relevância no sector do serviço público que a RTP1 preconiza?

Acredito piamente que a RTP2 presta serviço público, não apenas por apresentar conteúdo que alguns poderiam considerar como elitista, mas por se apresentar como um canal eclético do ponto de vista informativo, e por conter apenas publicidade institucional. Já o caso da RTP1 é paradigmático do péssimo serviço público que presta. Não digo que os conteúdos programáticos da RTP1 sejam maus, digo-o no entanto com veemência, que os mesmos não acrescentam em nada, o que o sector privado da televisão já oferece aos telespectadores. E passo a explicar.

Uma grande percentagem temporal do telejornal da RTP1 é dedicada ao futebol. A RTP1 dedica grande parte dos seus investimentos na área do futebol. Poderiam aqui evocar-se quem sabe, as questões salutares e recomendáveis do desporto, mas a unicidade em torno do futebol que a RTP1 apresenta é decadente e deplorável. Já a RTP2 apresenta-se verdadeiramente eclética e presta verdadeiramente um serviço público na área do desporto.

A RTP1 apresenta reality shows que nada trazem de novo em relação ao que o sector privado apresenta. Será que por ter o agraciado comediante, e que eu até aprecio observar, Bruno Nogueira, que o reality show da RTP1 se apresenta como serviço púbico?

Os filmes, quando os vejo na RTP1, estão repletos de publicidade intercalar, que me deixa algo atónito, pois não compreendo como é que sendo a RTP1 um canal público apresenta tanta publicidade. Os programas da manhã, nada acrescentam em termos de serviço público, comparando com os da concorrência, mais precisamente os da SIC ou da TVI.

Salvam-se alguns programas verdadeiramente informativos e que apelam à reflexão pública, como os da Dra. Fátima Campos Ferreira, pelos quais vos devo congratular.

No campo da música a RTP1 limita-se a ter aquela decrépita e desactualizada lista de músicas que estão no topo, no seu programa TOP+, lista essa sem qualquer paralelismo com quaisquer gostos musicais, pois nos dias de hoje, o sector da inter-rede toma um papel muito mais relevante que as lojas de música ou mesmo as rádios.

A RTP1 apresenta um programa para talentos gastronómicos, que não apresenta nenhuma mais valia comparando com os já afamados programas de talentos na música, na poesia, na dança, ou até na perda de peso, como apresentam os da concorrência.

Não há nenhum programa da RTP1, à excepção daquele que já referenciei e pelo qual vos congratulo, que a concorrência não ofereça na sua grelha programática.

Repare excelentíssimo provedor, que paradoxalmente foi a TVI quem iniciou com veemência a profusão das telenovelas de índole lusa, contrastando com as brasileiras, foi a TVI que fez recentemente um programa musical para jovens talentos, em que estes cantavam quase sempre em língua portuguesa e foi a SIC quem iniciou a senda dos canais informativos em língua portuguesa. A RTP teve “Pedro e Inês”, a história de Bocage, e poucas mais valias nos apresenta comparando com o sector privado.

Prezado provedor, não sou elitista intelectual, considero que deve haver conteúdo programático para todos os gostos, de todas as classes sociais, intelectuais, religiosas ou até étnicas. O que não posso tolerar é ter de pagar mensalmente uma taxa audiovisual, a um canal que por certo adicionalmente ainda se financia de montantes pecuniários através do orçamento de estado, quando este não acrescenta em nada, ao que o sector privado já oferece. Poderia evocar-se a questão da publicidade, que é de valorar, pois a título de exemplo valorizo bastante e sou afincado ouvinte da Antena 1, que apresenta conteúdo similar à TSF, mas sem a vertente publicitária. Neste caso o contexto do serviço público aplica-se. Na RTP1 não, pois esta é profusa em publicidade.

Penso sinceramente caro provedor que a RTP1 se encontra numa encruzilhada. Ou aposta seriamente no serviço público, não sendo temerosa pelas audiências, e rejeita de vez a publicidade; ou, e por certo será o mais certo, passo o pleonasmo, privatizem-na de vez pois não oferenda ao telespectador nenhuma mais valia, em comparação com o sector privado, apresentando-se somente como um cancro financeiro para o erário público e para o mero contribuinte, no qual eu me incluo.

Prezado provedor da RTP

Aceite os meus melhores cumprimentos

João Pimentel Ferreira

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