O Sindicalismo do Capital

Vivemos claramente num regime capitalista, em que o estado social ainda tem um peso preponderante, e felizmente que assim o é. Portugal ainda consegue conciliar salutarmente o estado providência caracteristicamente europeu com origens germanas e um regime mais liberal claramente sucedâneo das doutrinas capitalistas do filósofo e economista escocês Adam Smith, que tem o seu apogeu no novo mundo!

Portugal concilia muito bem estes dois mundos. A segurança social e o serviço nacional de saúde ainda prestam com algumas limitações um serviço público de providência com alguma qualidade, e um indivíduo empreendedor e dinâmico que queira estabelecer o seu próprio negócio privado tem todas as condições estatais e fiscais para o fazer em Portugal. Portugal concilia salutarmente o capital com a doutrina do estado providência criado após a revolução dos cravos

E tais poderes teoricamente antagónicos e em dipolos ideológicos distantes conseguem em Portugal ter uma conciliação e um entendimento apesar das circunstâncias por vezes menos propícias, harmoniosos.

O que é realmente um autêntico sofisma declarado, um autêntico paradoxo ideológico que nos remete tão-somente para os interesses próprios sem quaisquer bases racionais ou políticas estruturadas, é aquilo que eu apelido de sindicalismo do capital

Pensemos conjuntamente, o que é que hoje mais se reivindica por parte dos sindicatos? A resposta apesar de aparentar ser filosoficamente contraditório é clarividente: Capital! Os sindicatos querem constantemente aumentos salariais, convocam greves quando há cortes salariais na função pública, os sindicatos dos juízes protestam contra os cortes salariais, os sindicatos dos trabalhadores da Imprensa Nacional Casa da Moeda fazem greve contra os cortes salariais, os polícias e os guardas querem nivelamento salarial, os enfermeiros querem subsídio de risco pecuniário e os sindicatos dos médicos querem que estes recebam mais pelas horas extraordinárias.

Hoje em dia caros leitores só uma forma de calar um sindicalista: com capital. Já não interessam as condições macroeconómicas do país ou se produzimos menos do que aquilo que gastamos, porque para um sindicalista há sempre o argumento falacioso do outro, de alguém que ganha mais, do gestor que ganha exorbitantemente mais. É certo que a classe gestora em Portugal, muita dela não passa tão-somente de um antro de lacraus. Vestem-se de fato e gravata, dizem uns anglicismos imperceptíveis ao comum dos trabalhadores e evocam a crise para contratarem funcionários de forma precária. Não nos iludamos, os gestores de fato e gravata que gerem o nosso país são a verdadeira causa do estado em que vivemos, e também o são os trabalhadores porque exigiram sempre aquilo que o país não podia suportar para comprarem as suas frivolidades de consumo importadas, que apenas desequilibraram a nossa balança comercial.

Sou bastante sincero: Para quê aumentar um funcionário público se ele gasta na maior parte dos casos mais de metade do que recebe em produtos que provêm do estrangeiro? Não será mais sensato apoiar as pequenas empresas a tornarem-se grandes? Não será mais sensato impulsionar a indústria que Portugal nunca teve de forma sustentada e produtiva? Industria pesada! Um país com uma costa marítima tão extensa que construía as suas próprias naus para navegarem para além do cabo da Boa Esperança, agora teve de se endividar para comprar dois submarinos ao exterior!

O endividamento externo é patológico na nossa sociedade e o sindicalista não passa de uma pequena criança que não entende tais parâmetros macroeconómicos. Quer o carrinho a todo o custo mesmo que o pai não tenha ordenado para o pagar. E como o pai é fraco endivida-se com uma credora para pagar o carrinho ao filho. Mas como o filho tem irmãos e irmãs, o pai endivida-se cada vez mais para saciar os ímpetos consumistas das crianças.

E qual é aquilo de quo o sindicalista está sempre mais sedento: Capital! O capital é a forma mais objectiva e fácil de calar um sindicalista!

Não é vergonhoso terem certas empresas públicas passivos da ordem dos milhares de milhões de euros como na área dos transportes e os trabalhadores dessas mesmas empresas estarem constantemente em protestos? Não é de uma indecência de bradar aos céus, visto que eles reclamam o dinheiro que não é do governo mas sim do erário público ou seja de todos nós?

A forma mais rápida de parar uma greve não é com cedência de exigências, mas com capital! Até porque na maioria dos casos as exigências passam sempre por aumento de capital!

Vejamos a greve vergonhosa dos pilotos da transportadora aérea nacional que extremamente bem remunerados exigiram aumentos salariais incomportáveis. Os funcionários dos impostos fizeram greve por aumentos salariais, os das alfândegas querem aumentos salariais, as forças da ordem querem mais subsídios de riscos que implicam aumentos de salário e os professores estão descontentes com as novas regras porque implicarão uma subida na carreira menos acentuada que fará com que a subida de ordenado seja também menos acentuada.

Historicamente o sindicalismo e o associativismo tiveram um papel preponderante nas exigências para melhores condições de trabalho, mais segurança no trabalho, menor carga horária, sistemas de protecção na doença e no desemprego, mas o que os sindicalistas ainda não se aperceberam é que pelo facto de o capitalismo estar tão entranhado no nosso quotidiano social, pois é o dinheiro que sustém todos os nossos luxos e mordomias, sendo muitos deles dispensáveis, é que os próprios sindicalistas tornaram as suas reivindicações mais capitalistas que o próprio patronato concebe.

Se eu for verdadeiramente Cristão e me apresentarem o Diabo, eu rejeito-o veementemente, mas se propuserem a um sindicalista aumentos de capitais às suas exigências, este regozija-se imediatamente, baixa a haste protestativa e dá o combate sindical temporariamente como terminado.

Houve em tempos um homem de esquerda que disse que a religião era o ópio do povo, talvez até fosse verdade, mas o sindicalismo irracional e meramente protestatório foi o ópio de Portugal ao longo dos seus 35 anos de democracia.

2 comentários:

  1. É um bom artigo, mas acho que exageras um pouco. Só falta dizeres que os sindicatos são de direita e que estão próximos do CDS. Na minha opinião, os sindicatos devem é ser independentes e não um veículo dos interesses políticos de alguns partidos.

    Um bem Haja

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  2. Os sindicalistas são de esquerda e ligados ao PC e alguns ao Bloco de Esquerda. São é de uma esquerda contemporânea que apelido de capitalista e que já nada tem de comunista. O que é que tem de comunista a greve dos pilotos da TAP que ganhavam em média 5000€ por mês? Aquilo que eu defendo é exactamente aquilo que tu também defendes, a independência dos sindicatos em relação a certos sectores partidários! E quando assim o for, ver-se-á claramente o quão capitalistas são na realidade os sindicatos, pois como disse a forma mais simples e directa de calar um sindicalista é com mais dinheiro no fim do mês!

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