Vivo na capital do império esquecido. Vivo na capital do império pretérito. Os iniciados portugueses decidiram homenagear todos os povos alcançados pela hegemonia e influência do império Lusitano. Vejamos as homenagens que observo na capital do império pretérito. Tal como refere Pessoa, falta cumprir-se Portugal.
Perco-me nos desejos esquecidos enquanto vagueio por uma rua que é adereçada por um café de nome Danúbio. Danúbio, o rio que atravessa três capitais europeias, Danúbio, o rio de Budapeste, cidade esbelta, melancólica, por vezes sombria, por vezes encontrei nela a folia. A austera e humilde Budapeste. Passeio perto do café Danúbio na capital do novo império. Meus caros leitores deste pseudo-artístico guia turístico sobre as influências deste império pretérito, podemos vaguear pela avenida de Paris, onde encontramos lojas e montras com artigos chiques e requintados, esta avenida termina, ou direi começa, na praça de Londres, praça que é ornamentada com uma igreja em homenagem aos líderes, e à líder feminina messiânica do império Britânico, Sua Majestade, a rainha de Inglaterra. Tem esta praça de Londres, uma igreja em sua homenagem, tem um banco, pois sempre foram grandes homens de negócios e muito interesseiros os semitas ingleses e tem um ministério, sinal simbólico de poder, austeridade, rectitude, mistério iniciático maçónico e simbologia governativa. A lei masculina neste ministério, a igreja feminina em homenagem a Sua Majestade, a rainha do país cuja capital é Londres. Não dizem os exacerbados mações em apoteose extrema “God save our noble Queen”?
Passeio pela capital do império pretérito e mal deixo a capital do império Britânico, faço uma vénia a Sua Majestade, rezo o terço, oro um Pai Nosso e cinco Avé Marias e caminho na direcção da capital do império Cristão, ou deverei dizer católico? Caminho na avenida de Roma que une a capital de Inglaterra ao país do novo mundo, o nosso Brasil brasileiro, em que o cantor vocifera alegremente que Deus só pode ser brasileiro. Se Deus for brasileiro encontrará na avenida do Brasil a ligação pela avenida de Roma à igreja de Sua Majestade. No cruzamento, deveria ter dito simplesmente, no entroncamento entre a avenida do Brasil e avenida de Roma, encontra-se o hospital psiquiátrico. A que se deve tal associação? A avenida do Brasil na horizontal, a avenida de Roma erecta, na vertical, a brasileira feminina, o Romano masculino. Será que provoca alguma demência intelectual o coito simbólico e urbanístico entre um romano e uma brasileira, entre um ser racional, austero, impetuoso, por vezes cruel, do velho continente, e uma mulher livre, louca, libidinosa, liberta de preconceitos ou restrições éticas ou morais, erógena, libertária do novo continente do Sul?
Vagueio pela avenida de Roma, caminho pela João XXI, o único papa Português que faleceu de forma que considero misteriosa, talvez sinal conspirativo, e chego à avenida de Madrid. Os nossos irmãos castelhanos foram contemplados com uma avenida simples, humilde e pouco reconhecida pelos lisboetas. Perguntarei a alguém na rua, “Poderá porventura, se me permite a questão e o afloramento algo inconveniente, dada a azáfama em que se encontra, indicar-me onde se situa a avenida que homenageia a capital do império de nossos irmãos castelhanos? ”, ou mais simplesmente, “Avenida de Madrid, onde fica?” Talvez em sinal retributivo pelo facto de Portugal ter sido homenageado em Madrid com uma rua esguia, embora central. No entanto os nossos irmãos têm uma praça enorme em Lisboa, a praça de Espanha. Será a praça de Espanha, uma crítica latente ao império espanhol? Austero, grandioso, enorme, com uma forte hegemonia, no entanto por vezes vazio de sentimentos, e por vezes criminoso na sua sede de poder e ganância. Lembremo-nos daquilo que fizeram aos Maias, Incas e Azetecas em nome do Cristianismo. A praça de Espanha, a maior da cidade, mas em que ninguém passeia, ninguém mendiga, ninguém escreve, ninguém fala, ninguém indaga; um poeta escreveu em tempos um poema e lá foi colocado no centro da praça; poucos o lêem. A praça limita-se a ser percorrida por automóveis, é penetrada e despenetrada, é atravessada e trespassada por viaturas ligeiras e pesadas.
Mas quão estranho é observar que quando vagueava no meu cavalo negro pela praça de Espanha, encontrei vários ruminantes açorianos a pastar pelo seu centro esverdeado. Ai, a mulher espanhola! Qual a relação entre o império Lusitano e o império de Cervantes? Se por um lado apelidamo-los de nossos irmãos, por outro dizemos que do outro lado da fronteira, nem bons ventos, nem bons casamentos. Mas as mulheres espanholas transmitem por vezes sensações estranhas libidinosas, exaltam as sensações exacerbadas e ímpias da libido. Se em tempos passados a cultura espanhola era representativa da ortodoxia e rectidão cristãs, hoje na mulher espanhola revejo os sonhos heréticos nas instâncias anatómicas carnais. Gado na praça de Espanha, porquê? Na maior praça de Lisboa.
Mas qual a maior avenida na capital do Império pretérito? Qual a que tem maior extensão, qual a mais subliminarmente viril? A avenida do messias lusitano, a avenida do Infante D. Henrique. Vai desde uma praça de um médico escritor, o Dr. José Queirós, até ao terreiro do paço, a praça do Comércio, o terreiro que já deixou de ter terra, com D. José, regente de outro regente mação e autoritário, o marquês da cidade de Pombal, D. Sebastião José, este terreiro que já deixou de ter terra foi o local de onde as embarcações, cujo conhecimento na ciência da navegação foi assimilado pelo legado do Infante, largaram e partiram em rumo às terras do Oriente. A maior avenida de Lisboa homenageia o messias português, o Infante, filho de D. João I e Filipa de Lencastre, filho de um português e de uma Inglesa, que gerou a denominada por Camões ínclita geração. A maior avenida do Império Lusitano homenageia o messias, o missionário da navegação, aquele que perscrutou através das ondas do azul do mar, novos mundos e novos continentes. Aquele que trouxe mundos ao mundo, que vagueou pelas ciências curvas e onduladas do mar imenso, que penetrou pelos horizontes infindáveis e misteriosos das neblinas intempestivas de além-mar.
Escrevo num café perto do café Danúbio, que atravessa Viena, Budapeste e Belgrado. No outro dia percorri a avenida da Igreja e encontrei o café Helsínquia. Fiquei deveras perplexo e intrigado! Qual a relação entre os pressupostos cristãos e católicos e a cultura de raízes altaicas existentes na Finlândia, a terra do fim? Porque é que a Finlândia é a terra do fim? Depois da Finlândia, nada mais, apenas o branco vazio, apenas o gelo ríspido e acutilante, aquele que se encrosta no sangue e que nos regela, impregnando temperaturas negativas no sangue quente dos homens do Sul. Entro na pastelaria da capital da terra do Fim e observo um mural feito de azulejos da cidade Finlandesa. Lembro-me de passear pela Finlândia, lembro-me de passear por Helsínquia, cidade tranquila, cidade maravilhosa e paradisíaca, passei pelas terras do fim, em período estival. Talvez por isso tivesse ficado maravilhado. Lembro-me de ter escrito obra profícua por Helsínquia, numa estalagem e em diversos estabelecimentos comerciais. Lembro-me de Helsínquia, cidade maravilhosa em período estival. Porque se encontra então na capital do Império esquecido, uma pastelaria de nome Helsínquia, a terra capital das terras do fim, e porque se encontra entre uma igreja, na avenida da igreja e a estátua daquele, que pelo facto de ninguém o ouvir, decidiu pregar aos peixes? A pastelaria Helsínquia, serve saborosos cafés, sacia o meu vício da cafeína e tem suculentas refeições, analogias às esbeltas e cândidas Finlandesas
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Vale do Silêncio, Olivais - vneto |
Mas a avenida que mais me intriga, é a avenida que homenageia a capital do império Germânico, a avenida de Berlim. Percorro-a diariamente no meu percurso até ao laboro. Trespasso-a. Mas esta avenida, apesar de não ser muito extensa, tem algo representativo dos povos hiperbóreos e germanos. É ornamentada, adereçada com alguns espaços verdes, e une o Oriente ao aeroporto, talvez referindo o império alemão do segundo quartel do século vinte que indagou sobre as origens dos povos indo-europeus e elevou hediondamente os espíritos arianos e pseudo-superiores, com as origens indianas dos povos europeus. A avenida do império de Bismarck, é envolta em jardins e espaços verdes, do seu lado direito, quem caminha no sentido do aeroporto, encontramos um passeio esverdeado, do lado esquerdo, a meio, representando a virtude e o equilíbrio, o vale do silêncio. Porque é verde, pacato, tranquilo, num lugar de oliveiras, o vale do Silêncio? Sejamos contraditórios, façamos um concerto no vale do Silêncio, patrocinado pela cerveja Sagres e pelos cafés Delta. O vale iniciático do Silêncio, onde os homens e as mulheres fazem votos germânicos iniciáticos de silêncio, mas onde as crianças brincam alegremente, correm e falam, choram e cantam pelo vale do silêncio hiperbóreo.
Faço uma crítica acérrima aos urbanistas iniciados da capital do Império pretérito! Onde estão as referências aos povos nórdicos e aos povos eslavos? Onde se encontra a praça de Estocolmo, onde vivi dez exactos meses, onde se encontra a avenida de Minsque, cujas mulheres alvas e libidinosas instigam em mim sentimentos primários? E a rotunda de São Petersburgo, ou a alameda de Moscovo? Moscovo não temos. Mas habito perto de uma localidade cujo nome tem uma associação anagramática com a capital do império Russo; habito perto de Moscavide.
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Av. dos Estados Unidos da América - Dmitriy T |
E qual a segunda maior avenida da capital do Império pretérito? É a avenida dedicada ao novo império sediado no novo mundo. É a avenida dos Estados Unidos do novo mundo. É enorme, extensa, une Marvila, perto de Chelas, à avenida das Forças Armadas, une o instinto da pobreza e o miserabilismo de Chelas ao instinto bélico das Forças armadas da ordem. Atravessa uma feira, um estabelecimento comercial denominado Feira Nova; feira nova, mundo novo. Esta avenida atravessa a avenida do Almirante Gago Coutinho que atravessou o Atlântico Sul de avião, representando assim a ligação mais comum do século vinte e vinte e um entre o velho e o novo continente: o avião. Não começa a avenida Gago Coutinho na rotunda do aeroporto, representando assim a aviação lusitana? Não trespassa a avenida do Almirante, a avenida dedicada ao novo mundo? Como chegar nos dias de hoje ao império sanguinário do instinto, senão pela via aérea?
E quase que olvidava as avenidas do Oriente e de África, o continente negro. A avenida da Índia, enorme, extensa, junto ao mar e ao rio, simbolizando a ligação lusitana do império português ao Oriente através das águas. E a avenida de Ceuta, conquistada no século XV, bastião português no continente africano. Não poderei deixar de referir as avenidas de Moçambique e de Luanda. Ou a praça do Chile, cujo centro é ornamentado com uma estátua de Fernão Magalhães. Não passou Fernão Magalhães pelo Chile no seu périplo circunnavegante mundial?
E todos aqueles bazares do Cais do Sodré, com mulheres libidinosas, com nomes de cidades britânicas e associações com elementos nórdicos e viquingues. Nos cais, atracam marinheiros sedentos por prazer de sereias esbeltas de terra seca. Talvez aqui exista a associação entre os povos nórdicos e ingleses à arte da navegação. E todas aquelas ruas à direita da avenida Almirante Reis com nomes de cidades Inglesas como Cardiff e Manchester?
E finalizo esta homenagem urbanística aos iniciados do império pretérito com a Alameda que consagra o seu regente primogénito: A alameda D. Afonso Henriques, que desce e sobe e continua através de uma alameda de uma universidade onde se lecciona Engenharia. Une uma fonte luminosa à sabedoria técnica, matemática e física! Há que retornar às origens, às raízes históricas do império através do seu primeiro regente, D. Afonso Henriques, para conseguir associar os princípios da luz, aos pensamentos matemáticos e físicos da universidade do Saber. Porquê então, as cotas do terreiro da fonte luminosa são as mesmas da entrada nascente do Instituto Superior Técnico? E porque se encontra o Instituto Superior Técnico alinhado com os eixos cardeais? Na entrada oriental temos trinta degraus, nove vezes três mais três, na entrada ocidental encontramos quarenta e cinco degraus, sendo nove vezes cinco degraus! A definir os pontos norte e sul, encontram-se duas torres cúbicas. Não é o cubo a figura geométrica idolatrada e venerada pelos iniciados sufistas? Na entrada nascente deste instituto uma alameda cujo nome retorna às origens do império português, e depois de atravessada e percorrida vemos a fonte que jorra sabedoria, cujos cinco falos aquáticos jorram a luz do saber, a água que sacia a curiosidade e a sede pelo Saber, a água doce que tem Sabor, e se tem Sabor tem Saber.
A capital do império pretérito, a capital do império que falta cumprir, tal como referia o poeta Pessoa. O império que falta cumprir, a cidade capital que o representa, que representa os seus históricos aliados, que carece de referências eslavas mas talvez encontre na sua língua, no seu 'c' de cedilha, as referências eslavas. Porque temos então com tanta frequência o 'c' de cedilha nas línguas eslavas, com o mesmo som representativo? Faltam as referências nipónicas na capital do império pretérito! Talvez novamente as encontre na língua. Esta forma simples de sílabas simples, apenas com uma consoante e uma vogal, esta associação de sílabas com apenas um sinal sonoro referente a uma consoante e outro referente a uma vogal relembra-me os nomes nipónicos. Basta pensar em Hiroxima, Nagasáqui, Quioto, Mitsubishi, Sony e muitos outros nomes nipónicos para encontrarmos algumas semelhanças com alguns termos da língua portuguesa, como por exemplo cafetaria.
Faço referência às representações simbólicas que a capital do Império pretérito tem.
Passeio por Lisboa, e de repente, vi o mundo!