Estive recentemente a observar o festival Europeu da canção de 2009 e fiquei deveras perplexo com a submissão da cultura musical europeia à cultura americana, quer na língua quer no estilo. Não tenho dados quanto ao número de canções cuja língua favorita foi o Inglês; não tenho dados pois estes são bastante difíceis de encontrar quer na rede, quer nos meios de comunicação social convencionais; mas posso asseverar empiricamente e se a estatística impressionista não me falha, que o idioma para a maioria das músicas representativas dos diversos países Europeus foi a que é falada na sede do novo mundo.
Isto é uma autentica subjugação cultural, é uma submissão aos padrões culturais americanos, é uma sujeição à hegemonia forçada da língua de Sua Majestade. Pergunto eu, meus caros, qual o dia em que ouviremos nos canais mediáticos americanos uma música cantada em Turco? Qual será o dia em que ouviremos no festival Europeu da canção o Reino Unido ser representado com uma canção cantada em Ucraniano ou em Arménio? Dir-me-ão que tal façanha é impensável e inexequível; e assim o é. Mas o inverso aconteceu no festival da canção de 2009.
Os países nórdicos como já é tradição escolheram todos o Inglês para se fazerem representar no maior espectáculo intercultural e musical da Europa. Não deveria afirmar intercultural, pois existe claramente uma padronização cultural da música pop cantada em Inglês neste afamado festival. Muitos países como a Turquia, a Bulgária, Israel, a Grécia, a Bielorrússia, a Hungria, a Lituânia, a Polónia, a Arménia, a Ucrânia e até a Alemanha escolheram o Inglês. Muitos dos que escolheram as suas próprias línguas nem sequer chegaram à final, como é o caso da Macedónia e da Letónia. Dir-me-ão que é uma forma mais apelativa de atrair votos do júri, mas é uma forma efémera, fugaz, pouco coerente com as suas géneses culturais, como forma de se afirmarem no espaço musical Europeu. No maior festival de música que a Europa produz observamos repetitivamente um sistema decrépito de rebaixamento cultural em relação à profusa doutrina musical americana.
Tentemos ir à génese da questão, tal facto que abordo acima, é um reflexo dos dias que vivemos. Encontramos uma disseminação em todos os meios de comunicação como a rádio e a televisão da língua e da cultura americana. O espaço radiofónico Europeu está repleto de música americana, as televisões europeias estão inundadas com filmes provenientes do novo mundo falados em Inglês, e esta onda de veneração aos súbditos do tio Sam, reflecte-se inevitavelmente no festival da canção. E pergunto eu, como é que um continente tão rico cultural e linguisticamente como é a Europa, como é que um continente com tradições musicais seculares, um continente único na sua heterogeneidade linguística, necessita de importar do novo mundo a música e a língua para um festival que se intitula Europeu da canção? Faz-me reflectir por que é que a Itália decidiu abandonar este festival. Talvez porque não se identificasse com o género de músicas que nele participam. Faça-se justiça com Portugal, Espanha e França que decidiram utilizar as suas línguas para se fazer representar.
E faço eu mais uma questão, porque é que o estilo musical mais utilizado é o pop? Não é o pop um estilo musical que nasceu nos Estados Unidos? Não é a Europa um continente tão rico musicalmente, com diversos estilos musicais tradicionais e regionais que certamente representariam bastante melhor cada nação? O fado é um exemplo. Mas já que não se canta utilizando cada estilo musical, deveria utilizar-se pelo menos a língua própria de cada nação. Reparemos como muitos dos vencedores do festival cantaram em Inglês, como a Suécia com os Abba, recentemente a Finlândia em 2006 com os Lordie e a Noruega em 2009. Mas já é tradição todos os países nórdicos utilizarem o Inglês para se fazerem representar.
Irradiemos a hegemonia do Inglês no festival Europeu da canção; deixemos esta língua apenas para os países que a utilizam como língua oficial, como o Reino Unido e a Irlanda, e façamos do festival Europeu da canção um verdadeiro espaço multicultural e verdadeiramente representativo das idiossincrasias regionais europeias tão pouco profusas no espaço comunicacional do nosso quotidiano.
Irradiemos a hegemonia do Inglês no festival Europeu da canção; deixemos esta língua apenas para os países que a utilizam como língua oficial, como o Reino Unido e a Irlanda, e façamos do festival Europeu da canção um verdadeiro espaço multicultural e verdadeiramente representativo das idiossincrasias regionais europeias tão pouco profusas no espaço comunicacional do nosso quotidiano.
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