Um donuts do dia


Cantava a música publicitária, já vai alguns anos, quando ouvia publicidade televisiva, e dizia a cantora alegremente, soletrava as palavras correctamente... “Um “donuts” do dia, fofo, leve, fresco, acabado de chegar”,

Não haja dúvida às influências inegáveis do império do ocidente; Portugal e Lisboa em particular que foi sempre tão rica em doçarias tradicionais, desde

  • a bola de Berlim,
  • o bolo de arroz,
  • o pastel de nata,
  • o palmiê recheado e coberto,
  • o São Marcos,
  • as tartes de amêndoa,
  • o queque de chocolate,
  • o salame
  • o doce de cenoura
  • o doce de leite
  • o caracol


e muitos mais me lembro de observar por essas pastelarias alfacinhas, fabricados e concebidos, adocicados por essas padarias da cidade, nas matinais correrias de entregar o fresco bolo português e europeu no café e na montra mais perto do consumidor.

Da língua e das papilas gustativas, o açúcar, o creme fresco e doce que adoça a já adocicada boca dos cidadãos frequentes destes estabelecimentos.
No entanto, pouca ou nenhuma publicidade a estas iguarias da doçaria tradicional; no entanto por muita estranheza, ou talvez por muito dinheiro e influências envolvidas é o “Donuts” do dia que vimos tão amplamente publicitado e difundido.

Esse donuts, que não nego que seja agradável e de sabor esplêndido ao paladar, com essa forma cilíndrica circular que se une em si próprio, uma espécie de pescadinha de rabo na boca da doçaria norte-americana, amaplamente difundido pelo trabalhador inexperiente e desastrado da série televisiva, não deixa, de em comparação com a doçaria nacional portuguesa e europeia de ficar umas boas milhas em desvantagem.

E estranho é assertar, que o donuts, que evoca essa estrutura que mais se assemelha a um acelerador de partículas da doçaria, em que os átomos de açúcar fluem no sentido do campo magnético do local onde nos encontramos, apesar de ser um único elemento tem o 'S' no final; deve pertencer à mesma classe gramatical da palavra lápis.

E muito mais poderia ser dito sobre todos os outros doces que nos adoçam a manhã, na pastelaria mais próxima, desde essas de fabrico próprio, que nos aparecem frescos, cuja massa ao ser degustada, se mistura com a saliva e é deglutida de uma forma suave e amena.

O caracol que evoca a nossa galáxia, ou a forma divina, mágica de todas as espirais. Será que o caracol da doçaria nacional, na curvatura que faz sobre si mesmo, obedece à proporção definida pela constante áurea?

E o bolo de arroz, com essa forma templária, uma cúpula de doce arroz que se eleva nos céus, e cujos dentes do guloso trincam e degustam. Não é o arroz, o cereal do Oriente? Então é o bolo de arroz o mais iniciado dos doces, afável, de um brilho despercebido para não enjoar, mas de uma doce textura a massa que o constitui. Simples, modesto, sem muitos cremes, mas no entanto revela ser uma das mais procuradas iguarias da doçaria portuguesa

E o plamiê coberto, quanto açúcar contêm esse leque da doçaria nacional, assemelha-se a um leque de donzela da aristocracia francesa, linda, sublime, que com palavras entoadas num tom sensual, vai com a mão esquerda abanando o leque que a refresca, é o palmier coberto, amarelo, com o seu açúcar forte e rijo, quando trincado e misturado com a saliva forma uma mistura bastante calórica, no entanto irresistível.

Já o palmier recheado, essas duas camadas quadrangulares de massa com recheio entre elas, são deveras sublimes, deliciosas; o creme que as une e as separa é de uma amarelo de ovo delicioso. Esse creme é a massa que une os dois mosaicos, as duas placas, os dois azulejos; e se notarmos com mais alguma minúcia apercebermo-nos que na realidade os dois doces quadrados, são na realidade diversas tiras, verticais unidas entre si, uma espécie de duplo “kit kat” da nossa tão tradicional doçaria. Um hino aos preceitos quadrangulares!

No entanto, não posso deixar de referir um dos mais saborosos, no entanto fortemente calóricos doces que se encontram nas pastelarias da cidade que habito, o delicioso São Marcos. Com aquela estrutura cúbica, esbranquiçada na base e caramelizada no topo forma um cubo doce, agradável às papilas gustativas, suave, mas quando o pressiono com a face cortante do garfo de sobremesa, por vezes desfaz-se e custa a sua separação em partes devido à sua intrínseca estrutura, cujos átomos de açúcar parecem ter fortes laços magnéticos entre si. Seria preciso estudar mecânica quântica para entender os fenómenos que unem as estruturas de massa de um tão agradável e delicioso São Marcos.

E aquele que mete o donuts do dia no canto depois de um KO impiedoso é o tão afamado pastel de nata, estrutura circular regular, é uma espécie de cone cortado invertido. Seria assim por certo a sua receita geométrica:

Pegue num cone simples,
Inverta-o sobre o eixo do zenite,
Agora com muito cuidado faça um corte com um plano alinhado com a horizontal, mais ou menos a dois terços da base.
Colore-o com um amarelo suave, e enrije-o um pouco,
De seguida preencha o seu interior com um recheio cujo espessura e densidade satisfaçam o mais requintado dos adoradores de doçaria
Cubra o seu topo com um círculo ligeiramente escurecido, aqueça-o e sirva com a temperatura que achar conveniente.

E muito mais poderia ser dito de todos esses altares e menires, esses cromeleques, esses templos de criança, que brinca alegremente, essas massas, esses recheios, o açúcar e o ovo, palavra capicua. Por isso o donuts do dia é apenas o renegado dos deuses do olimpo dedicados à doçaria, quando comparado com as deidades adocicadas que se exibem nas pastelarias da metrópole que habito.

E onde estão as campanhas publicitárias em seu louvor? Para quê?
O saber e o sabor falam por si!!!

Sem comentários:

Enviar um comentário